Moradores de Interlagos reativam ONG Fiscais da Natureza para salvar Parque do Laguinho

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Devido ao estado do Laguinho e ao descaso do poder público, moradores da região se reuniram para iniciar captação de recursos para projetos de cuidados da fauna e flora


Por: Luciana Paim

Um grande desequilíbrio ambiental e uma degradação total tem tomado conta de um dos parques municipais mais bonitos da Zona Sul.

O Parque Municipal do Laguinho, localizado na região de Interlagos, é composto por vários ambientes remanescentes da Mata Atlântica. São 170 espécies vegetais entre arbóreas, arbustivas, herbáceas, epífitas, aquáticas e trepadeiras que já foram identificadas e catalogadas pelos técnicos da ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP), além de diversos animais como: uma família de jacaré do papo amarelo, galinhas d’água, saguis, marreca marajoara, ananaí e marreca-caneleira, além de 114 espécies de aves cadastradas.

Foi com o intuito de proteger e ajudar a cuidar desse espaço que os moradores da região se reuniram na última quarta-feira (19) para reativar a ONG Fiscais da Natureza. Criada em maio de 2002, a Organização tem como objetivo principal atuar diretamente nas questões ambientais do parque. Durante os últimos anos, a ONG atuou apenas na parte de divulgação.

Mas, devido ao estado do Laguinho e ao descaso do poder público, o grupo decidiu se reunir para definir uma nova assembleia para a eleição de uma nova diretoria com o intuito de reativar as ações e iniciar a captação de recursos para os projetos.

Morador da região há 30 anos , Genival Lopes, um dos ativistas responsáveis pela ONG, explicou para a equipe do Grupo Sul News que foi aprovado o recurso para iniciar as obras de reparo no parque ainda esse ano, porém, é importante ter o acompanhamento de especialistas do local para não danificar ainda mais o parque. “A gente quer acompanhar essa obra porque saiu no Diário Oficial que vai sair a verba para fazer a mudança da parte física do parque e todas essas obras são dentro de uma área de preservação permanente de animais silvestres. Por exemplo, os casais migratórios que vêm todo verão pra cá. Se fizerem uma obra que pode durar dois anos, como ficam os animais que vem no próximo verão? Toda essa parte tem que ser observada por técnicos que conhecem a área, o habitat natural desses animais para mostrar onde pode ter entradas, banheiros. O poder público realiza a obra em cima de dados do Geosampa, que não mostram onde estão as nascentes, não tem um acompanhamento de quem conhece o território para aconselhar”, afirma Genival.

Entre as ações previstas estão o mutirão para a limpeza do lago e a divisão de grupos de voluntários que possam realizar trabalhos de acordo o perfil de cada pessoa, adaptando ou capacitando para as atividades.

Após quase três anos sem gestor, Angela Rodrigues Alves foi empossada para esse biênio (2020/21) e explicou que em 2013, 35 administradores foram exonerados e que, de nove funcionários, o parque hoje só conta com uma pessoa para cuidar de 71 mil m². Segundo ela, já foram realizadas várias solicitações para a Secretaria do Verde e Meio Ambiente, mas sem resultados. “A Secretaria do Verde tem o problema de alternância de gestão. Já se passaram mais de 10 secretários. Hoje, tecnicamente e ambientalmente, o poder público não tem condição, capacidade ou interesse em mexer nas questões ambientais. Eu diria que tem muito mais interesse em abrir o Parque da Augusta ou do Minhocão do que arrumar o Laguinho”, diz Angela.

Ela acredita que a reativação da ONG fará muito pelo parque. “A ONG já conseguiu levantar toda a flora, fez um levantamento preliminar de fauna também. Está tendo um desequilíbrio ambiental muito grande aqui e não tem quem olhe para isso. Estão olhando para as obras, para as licitações mas para isso não. Então a ideia é reviver a ONG para rever essas questões. Essa reunião é para tentar se unir, montar projetos, ir atrás de patrocínio, investimento e fazer na prática, porque não dá mais para ficar olhando e não fazer nada”.

Dois pontos levantados pela gestora que precisam de atenção imediata são: a falta de infraestrutura e o assoreamento do lago. “O lixo que está nas ruas, no bairro inteiro da frente do Autódromo, grandes eventos e são cinco galerias que estão entrando no lago. Ele tem 10 nascentes, antigamente só abastecido por elas. Agora eles colocaram os canos, inclusive perto das nascentes, acho que para aproveitar o dreno natural. Nesse tempo todo não tem um banheiro, um bebedor para a comunidade. Está fechado ao público porque está tendo desabamento por causa de chuva, queda de árvore, então é perigoso”, afirma Angela.

Angelita Dias é pesquisadora e moradora do bairro há 10 anos e afirma que a degradação do parque foi piorando ao longo do tempo e que com a união dos moradores acredita ser possível resolver o problema. “Se a gente quiser deixar o parque para a posteridade é agora que a gente tem que fazer alguma coisa. Senão, o Laguinho não vai durar nem 50 anos. Ele é maravilhoso, flora e fauna. É o quintal da nossa casa, quintal do bairro, um lugar contemplativo para os moradores daqui e de fora do bairro”, diz Angelita.

De acordo com o site da Prefeitura, pelo Plano de Metas 2019/2020 a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente deve entregar 10 novos parques este ano. Atualmente, existem 108 parques municipais urbanos (incluindo os lineares).

Para quem quiser contribuir ou conhecer o trabalho da ONG Fiscais da Natureza, basta entrar na página @amigosdolaguinho


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