Pela segunda vez, PMs abordaram o policial civil W.V.S. de maneira agressiva. Em junho, ele foi insultado quando levava suspeitos para a delegacia e agora, na Zona Sul, ele foi impedido de deixar o local da ação mesmo se identificando como agente de segurança
Pela segunda vez neste ano, um policial civil negro foi abordado por PMs brancos durante o trabalho de maneira suspeita e preconceituosa.
O primeiro caso aconteceu em junho, na região central da cidade, enquanto o policial levava suspeitos para a delegacia: PMs falaram com ele de maneira agressiva quando se identificou como policial civil e ainda o insultaram de maneira racista: “Vai negão, deita no chão. Que policial que nada, seu filho da p***”, disseram.
Em abordagem recente, que aconteceu última quinta-feira (17), o policial civil negro W.V.S. foi abordado por policiais militares brancos na Rua Domênico Palma, região da Cidade Ademar. Ele estava em uma viatura descaracterizada e foi impedido de sair do local, mesmo após se identificar como policial civil.
W.V.S. realizou boletim de ocorrência no 43° DP Cidade Ademar e informou que percebeu, pelo retrovisor, a aproximação de dois PMs em motocicletas. Então, ele acionou os sinais luminosos da viatura para que os PMs soubessem que ele também faz parte da Polícia. No entanto, ele foi parado mesmo assim.
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra que, na abordagem, o policial civil se identificou e pediu a identificação dos PMs, que reclamaram de entregarem seus documentos pois na farda já havia o nome deles.
Os PMs solicitaram o reforço de mais policiais militares e novamente W.V.S. precisou comprovar que é policial civil. Só depois disto ele foi liberado para deixar o local.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que esta foi uma abordagem de rotina e que os policiais envolvidos seguiram os protocolos estabelecidos pela Secretaria de se identificaram e que o boletim de ocorrência foi criado apenas como procedimento padrão. Segundo a Secretaria, não há nenhuma crise entre as polícias. A SSP não respondeu se considera que os PMs agiram de forma preconceituosa.
POLÍCIA MILITAR x POLÍCIA CIVIL
Em agosto, após três policiais militares serem mortos em serviço por um homem que fingiu ser um policial civil, as duas polícias começaram a entrar em conflito.
Em uma ocasião, 10 policiais militares cercaram dois policiais civis que estavam em serviço no bairro de Cidade Dutra, região de Interlagos.
Um dos PMs pede que o policial civil encoste na parede. Quando perguntado o que ele quer, o PM responde que quer verificar a situação e pede o distintivo e as armas. O policial civil responde que o delegado precisa ir ao local para verificar as exigências e pede que os PMs respeitem a portaria conjunta. Outro PM pede que a gravação seja interrompida e cita o caso dos PMs mortos na Zona Oeste. “Estão matando a gente”, ele diz.
Essa portaria foi criada em 1992 a partir de duas portarias que disciplinam a abordagem entre as duas polícias. Pela Polícia Civil, a portaria prevê “estreita colaboração e relacionamento harmônico” com a PM. Do lado da Polícia Militar, é previsto que haja “coesão e bom relacionamento das instituições”.
A Secretaria de Segurança Pública decidiu adotar um protocolo único de abordagem entre os policiais do estado de São Paulo: todo policial que seja submetido a uma abordagem deve apresentar sua carteira funcional de identificação. Quem se recusar, será desarmado. O policial que estiver realizando a abordagem deve se identificar da mesma maneira.
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