Conheça a história do tradicional bairro da Mooca através das palavras da mooquense de coração, Beatriz Lia!

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Sede da fábrica da Antártica, onde Bea contou que a empresa investiu muito em saúde e cultura, primeiro para seus funcionários, mas se expandindo para todos os 'mooquenses'

Você sabia que Santo Amaro e Mooca são grandes rivais para ver qual a maior cultura e tradição da cidade de São Paulo? Como cidadão santamarense, você já sabe das nossas histórias, mas e a Mooca? Veja como Beatriz Lia transformou seu amado bairro numa grande metáfora!


Que o Bairro de Santo Amaro é um dos mais tradicionais do Brasil, tendo seu primeiro povoado por aqui em 1552, você, típico cidadão santamarense, compreende da importância e relevância da história da nossa amada Zona Sul.

Agora, você acredita que o bairro da Mooca, na Zona Leste da Capital Paulista, também é tão antigo quanto Santo Amaro e contém uma riquíssima história de sua população? Foi pensando no seu bairro em que mora desde que era criança, que a jornalista, formada no Mackenzie, Beatriz Lia, decidiu transformar essas histórias locais em um livro, que foi o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), chamado Mooca: Só Quem Tem História Pode Contar.

“Gosto de dizer que comecei [a escrever o livro] em 2016, quando comecei a faculdade. Já tinha essa ideia e fui anotando ao longo dos anos”, revela Beatriz. O Bairro da Mooca começou a ser povoado por colonos europeus já a partir de 1556, gerando até uma rivalidade histórica e cultural com Santo Amaro, afinal, se ambos pertencem à cidade de São Paulo, então qual é a maior cultura paulistana? As duas! Cada região possui características e peculiaridades únicas, e é exatamente por isso que São Paulo é tão lindo!

Beatriz Lia junto ao seu exemplar do TCC, Mooca: Só Quem Tem História Pode Contar

O caminho que Bea escolheu não é por acaso, sua paixão pela escrita e pelo bairro se unificaram em uma paixão só, que ela mesmo chama de seu xodozinho! “Sempre gostei de escrever. Tinha um caderninho vermelho com minhas histórias, poemas, crônicas poemas, cartinhas. E costumo dizer que uma criança faz 500 perguntas. Mas eu fazia o dobro [risos].”

Para quem não está habituado com o tradicional bairro da Zona Leste, só tem no imaginário ser uma região muito povoado pelos italianos, com fábricas e trens. “Eu sempre falava muito do meu bairro. Do Juventus, do cannoli, da maria fumaça. Mas eu pensava que em todos os bairros eram assim. Mas percebi que outras regiões não tinham esse carinho com os bairros e achei tudo muito estranho”, diz a mooquense de coração, mas que nasceu em Campos Novo-SC.

Por conta da instalação das ferrovias, o bairro ganhou um importante endereço privilegiado para a revolução industrial paulistana começar na beira dos trilhos. “Muitas pessoas vieram se instalar por aqui. Mas nossos antepassados trabalhavam em condições péssimas. Se a minha família tem boas condições hoje, muito se deve as conquistas de nossos avós. Eles que construíram tudo isso”.

O jornalista do Grupo Sul News, Matheus Laube, reafirmou que o Morumbi, bairro ao qual vive desde o nascimento na Zona Sul, também tem esse mesmo pensamento, mas que não se tem as tradições de vangloriar o bairro com o forte sentimento “nacionalista regional” que os mooquenses têm.

“O Morumbi possui uma grande área nobre e surgiu junto com a construção do Estádio do São Paulo F.C. na década de 60. Mas foi construído com uma mão de obra que originou a segunda maior favela de São Paulo: Paraisópolis, diz Matheus, indagando que muitos “Morumbenses” deveriam olhar com mais carinho a colônia nordestina vinda dos anos 60 para construir todo esse bairro, que era uma imensa fazenda.

Não haviam nenhuma construção urbana na região do Morumbi, antes do Estádio. O São Paulo Futebol Clube criou um novo bairro da elite paulista na segunda metade do Século XX. Foto tirada no ano de 1960.

Mas cada região possui suas particularidades, jeito de falar, sotaques, comportamentos e tradições únicas. “Se você levar em consideração a região de Interlagos, que fica entre as represas Billings e Guarapiranga, a população local se preocupa muito mais com o meio ambiente e com a saúde da água, do que o restante da cidade, é uma peculiaridade única da Zona Sul, diz Matheus.

Já a Mooca possui preocupações com os laços familiares muito maior, e sabemos que a influência italiana, que prezam muito pela família unida, está muito presente por lá. “Tem uma brincadeira no meu livro que digo que, geralmente, os jogos do Juventus são no domingo de manhã. E há um espaço de Food Park em frente ao estádio, que lota antes do jogo, mas que não tem o mesmo movimento após o jogo. Já que a macarronada na casa da Nonna (avó em italiano) é sagrado!, brinca Bea.

As fábricas foram erguidas a todo o vapor pela região. A entrevista aconteceu na unidade Mooca da Faculdade das Américas (FAM), local este que era a antiga instalação do Moinho Santo Antônio, marco histórico da arquitetura mooquense.

“Aqui já foi muitas coisas na verdade, locação para eventos. O Moinho Santo Antônio produzia boa parte do trigo consumido. Isso por volta de 1930. Era um dos únicos locais para produção. O restante [do trigo] vinha da Argentina, e é um marco muito importante para a economia”, revela.

A FAM fez questão de manter a tradição arquitetônica do local, preservando o moinho e abrindo um pequeno museu. Há até uma pequena sala decorada especialmente para o Santo Antônio, novo padroeiro da faculdade!

Além do antigo, a construção com tudo de mais moderno cria um contraste entre século XX e XXI muito grande dentro do mesmo espaço. Matheus percebeu o quanto é uma viagem em dois tempos diferentes no mesmo ambiente e convida a todos para conhecer o Patrimônio Histórico que a FAM fez questão de transformar em uma unidade de ensino!

A FAM preservou sua arquitetura histórica da década de 1930, mesclando antigo com modernidade!

Já outra instalação, onde ficava o antigo Extra e futuro Assaí. O Cotonifício Rodolfo Crespi sofreu algumas alterações na arquitetura. “Foi a primeira fábrica de tecelagem por aqui. Além disso, tem uma grande relevância por ser palco da primeira greve trabalhista, que foi liderado por mulheres, revela sobre um tempo que mulheres não tinham muitos espaços no mercado de trabalho. “Até o aço usado nesta obra é importado e só se encontra também no Viaduto do Chá”, complementa.

Bea conta que o Extra queria derrubar suas torres durante as reformas: “O Extra queria derrubar para aprimorar os espaços e se adequar com o que for preciso, como abrir espaço para um estacionamento. Eles chegaram a derrubar 1, de 4 torres. Mas parou por aí”.

E Beatriz é uma grande defensora de que a história se mantenha viva. “Se você não passar a história pra frente, as pessoas vão morrer pensando que aqui sempre foi a FAM ou lá foi sempre o Extra”.

Estrutura do antigo Extra, que mantém as mesmas características do prédio da FAM

Mas nem só de construções industriais vivem a Mooca, há ainda a beleza arquitetônica das residências. “São casas muito bonitas. Quem construiu usava casas mais nobres de outros bairros como referência, mas que davam um toque mooquense na decoração, tornando uma atração arquitetônica muito interessante”, diz Bea.

Em alguns momentos da entrevista, Bea pegou a edição seu livro, que foi o TCC para contar alguns fatos. Ao ser questionada sobre a sensação de segurar um livro escrito por ela mesma, não conteve a sua alegria! “Toda vez que pego e abro é muito gostoso. Saber que isso é meu. É meu filho! Agora ele vai para publicação e tenho muito ‘xodózinho’ por ele [risos].”

O livro ainda não está disponível para venda, mas você poderá ter um exemplar e conhecer uma das histórias mais fascinantes de São Paulo através do ponto de vista da Beatriz, que se aventurou em suas palavras para manter vivo a história e tradições de seu amado bairro que sempre morou.

Depois dessa viagem pela Mooca com a Bea, que tal um autêntico Cannoli, que pode ser encontrado em diversas lanchonetes, padarias e restaurantes do bairro mais amado da Zona Leste?

SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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