ARTIGO | Fatos e relatos

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Dizem que, em relação a um fato, há a minha versão, a sua versão e a verdade. E faz sentido, afinal, a despeito dos interesses — sempre! — envolvidos e da tentativa — genuína, muitas vezes! — de ser imparcial, cada um faz a leitura a partir do seu ponto de vista, ou da sua vista do ponto. Essas divergências fazem-se ainda mais evidentes quando os narradores assumem, sabidamente, papéis diferentes. Por exemplo, o historiador e o artista.

E, vale dizer, não se trata de trabalhos concorrentes, mas sim complementares, ainda que com objetivos próprios. É de uma riqueza imensurável submeter um mesmo cenário às lentes da Arte e da História. Nesta, destacar-se-á, de maneira utilitária, objetiva e unissignificativa (dentro do possível!), a realidade dos fatos; naquela, sob a luz da estética, de maneira subjetiva e, intencionalmente, plurissignificativa, a leitura feita pelo artista.

Para Marc Bloch, “Existem duas maneiras de ser imparcial: a do cientista e a do juiz. Elas têm uma raiz comum, que é a honesta submissão à verdade.” Já o artista tem compromisso apenas com a “sua verdade”. Nos livros de História, aprendemos, ao estudar a Revolução Francesa e seu legado para a França e para o mundo, que o movimento, marcado por lutas e mortes, foi fundamental para a formação da sociedade moderna, notadamente no que diz respeito ao conceito de liberdade e à democracia.

Na obra “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, de outro lado, temos a consubstanciação de ideais, mazelas e paixões, personificados nas figuras de Jean Valjean, Fantine, Cosette, Marius, Javert, Bispo Myriel e outros, no cotidiano de um país chacoalhado por esse movimento. Qual tipo de produção tem mais valor? Nem um nem outro! Na verdade, um intera o outro. Mesmo porque, no caso dos romances históricos, há intenso trabalho de pesquisa para a composição do pano de fundo da trama a ser construída. Ademais, ambos nos humanizam, por caminhos distintos: um pela via informativa; outro pela via criativa/imaginativa.

Entre eles, um ponto em comum: a luta — “mais vã”, segundo o poeta! — com as palavras. Como afirma Bloch, “Muito mais temíveis são os eflúvios emotivos de que tantas dessas palavras nos chegam carregadas. Os poderes do sentimento raramente favorecem a precisão na linguagem.”

Daniela Miller de Araújo LopesProfessora de História e mentora de Ciências Humanas no Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília (CPMB)

Ênio César de Moraes FontesPoeta e professor de Língua Portuguesa


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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