Moradores incendeiam ônibus na Zona Sul em protesto por morte de adolescente

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A família da vítima suspeita que ele foi morto por policiais que o confundiram com suspeitos de um assalto. Ele desapareceu na porta da casa da avó e foi encontrado com marcas de tiros na cabeça e nas mãos. Revoltados, os moradores fizeram um protesto e depredaram e incendiaram ônibus na Av. Engenheiro Armando de Arruda Pereira, no Jabaquara. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram que a Polícia Militar reagiu com violência e agrediu manifestantes


Na noite da última segunda-feira (15), moradores do Jabaquara fizeram um protesto contra a morte do adolescente Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, que segundo a família, foi morto por policiais militares. No protesto, ônibus foram incendiados.

Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, tinha marcas de tiros na cabeça e nas mãos

O adolescente desapareceu no domingo (14) quando dois homens o abordaram na porta da casa de sua avó, na Rua Rolando Curti, e o levaram de carro, após um assalto em um galpão perto dali. Segundo familiares, o vigilante do galpão é um policial militar que foi atrás dos suspeitos e os confundiu com Guilherme.

A família da vítima suspeita que Guilherme foi morto por PMs porque, no local em que ele foi visto pela última vez, encontraram um pano parecido com uma farda que tinha a inscrição: “SD PM PAULO”.

O corpo de Guilherme foi localizado no domingo (14), perto da Avenida Alda, que faz divisa com o município de Diadema. A família só conseguiu reconhece-lo no IML Sul, no Brooklin, na tarde de ontem (15). Ele tinha marcas de tiros na cabeça e nas mãos.

Revoltados, moradores fizeram um protesto e depredaram e incendiaram cinco ônibus na Av. Engenheiro Armando de Arruda Pereira, no Jabaquara. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram que a Polícia Militar reagiu com violência e agrediu manifestantes. “Mais uma vez, nos deparamos com violência policial. É intolerável. Essas cenas devem ser investigadas com rigor para efetivamente contribuirmos para mudarmos a cultura de violência que permeia a atuação de alguns maus policiais. A responsabilidade está nas mãos do governador João Doria, do comando da Polícia Militar e de órgãos de controle dessa instituição”, disse presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Dimitri Sales.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), “o caso envolvendo o adolescente, de 15 anos, foi encaminhado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para investigações. A Polícia Militar também acompanha a apuração. Se for comprovada participação policial, as medidas cabíveis serão adotadas”.

Sobre a inscrição “SD PM PAULO”, encontrada no local do desaparecimento de Guilherme, a Polícia Militar informou que “o nome encontrado não pertence inicialmente a nenhum policial que trabalha na região e horário dos fatos”.

A SPTrans informou que “repudia atos de vandalismo e contata a Polícia Militar em tais circunstâncias”. Veículos da EMTU, que operam entre a capital paulista e a região do ABC, também foram incendiados. Segundo a empresa, o trecho Diadema-Brooklin teve a operação interrompida devido ao protesto.

VIOLÊNCIA POLICIAL

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, os índices criminais apresentaram queda no mês de abril. Em contrapartida, os índices de violência policial aumentaram no mesmo mês: segundo o Diário Oficial do Governo do Estado, cresceu em 54,6% as mortes envolvendo policiais.

Esse número representa 116 casos, ou seja, uma morte a cada seis horas. “Várias denúncias são de jovens que estão apanhando sem razão, recebem socos no rosto, têm o nariz quebrado. A morte é a última etapa da escalada. Como as ruas estão mais vazias, a sensação é que a sociedade já não está lá para olhar e os policiais podem fazer tudo”, explica a psicóloga Marisa Feffermann, pesquisadora do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso).

As vítimas têm, em sua maioria, de 15 a 24 anos. Além disso, são homens, negros e moradores da periferia. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2017 e 2018, cerca de 75% das pessoas mortas durante ocorrências policiais eram negras.

Essa violência crescente, mesmo durante a pandemia, também foi vista fora do Brasil. O que gerou os protestos “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), que exigem o fim do racismo e o fim da violência policial contra as pessoas negras.


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