Órgão ligado ao Governo Federal, por meio do Ministério do Turismo, deu entrada ao processo de estudo de tombamento depois que o Condephaat, órgão do Governo de São Paulo, rejeitou o pedido em 2020. O projeto de concessão do Governo do Estado prevê que seja construída uma arena esportiva com capacidade para 20 mil pessoas no Ginásio, além de um espaço semelhante a um shopping e um hotel
O processo de privatização do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães (que inclui o Ginásio do Ibirapuera, o Estádio Ícaro de Castro Mello, o Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo, o Ginásio Poliesportivo Mauro Pinheiro e o Palácio do Judô), parece que não vai prosseguir, mesmo com o pedido de tombamento rejeitado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), órgão do Governo de São Paulo.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão ligado ao Governo Federal por meio do Ministério do Turismo, deu entrada ao processo de estudo de tombamento do Complexo, após pedido iniciado por Ricardo Augusto Romano Sant’Anna, arquiteto e frequentador do Ginásio do Ibirapuera.
O pedido do arquiteto foi feito no dia 9 de dezembro, com a justificativa de que o local tem um valor simbólico e arquitetônico, e é importante para o esporte brasileiro.
O Iphan baseou-se em duas argumentações do pedido: “a pertinência de prosseguimento do estudo de tombamento, pela possível relevância do bem, e a urgência necessária para sua conclusão”.
Sendo assim, agora inicia-se um estudo sobre “o histórico do bem, as transformações por que passou, seu estado atual, dados cadastrais e legais quanto à propriedade e gestão”. No entanto, o Iphan salientou que “o posicionamento do Iphan, a favor da abertura de processo de tombamento no Condephaat, e o início do estudo em nível federal, não implicam contestação ou ingerência deste órgão federal àquele órgão estadual, pois são independentes”.
O órgão ainda afirmou que não há como definir o tempo de estudo para o tombamento, mas o prazo máximo leva cinco anos.
O projeto de concessão do Complexo do Ibirapuera, desenvolvido pelo Governo do Estado de São Paulo, prevê que seja construída uma arena esportiva com capacidade para 20 mil pessoas (já que atualmente cabem 10 mil), além de um espaço semelhante a um shopping, com a implantação de lojas, área de alimentação, pista de skate e playground. O projeto também prevê a construção de um hotel.
De acordo com o Governo de São Paulo, o Complexo gera um gasto de R$ 18 milhões por ano com manutenção, enquanto a arrecadação é de R$ 2,5 milhões, aproximadamente. Com a concessão, pelo período de 35 anos, o Complexo vai garantir R$ 220 milhões em melhorias.
Especialistas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) já se posicionaram contra a privatização com a justificativa de que o equipamento é um dos principais locais da história da arquitetura brasileira. “São diferentes os motivos que justificam a preservação do Conjunto Desportivo ‘Constâncio Vaz Guimarães’, onde se localiza o Ginásio do Ibirapuera. Esse último edifício deve ser protegido por questões estilísticas e construtivas, mas também pela sua importância dentro da arquitetura moderna brasileira e da modernização do esporte e da cultura da cidade de São Paulo em meados do século XX”, afirmam.
Um abaixo-assinado popular, que já tem mais de 79 mil assinaturas, continua em vigor contra a privatização do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, que começou a ser construído em 1954 e foi inaugurado em 1957. O local foi projetado pelo arquiteto Ícaro de Castro Mello, que também foi atleta recordista sul-americano de salto em altura e salto com vara, membro da equipe brasileira de atletismo nas Olimpíadas de Berlim, em 1936.
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