Indústria de transformação do estado de São Paulo teve saldo positivo de quase 31 mil vagas de emprego formal nos dois primeiros meses do ano

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A indústria de transformação do estado de São Paulo teve saldo positivo de 30.886 vagas de emprego formal nos dois primeiros meses de 2022, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). São Paulo é o estado que mais gerou empregos industriais este ano. Se somadas as contrações da construção civil, são mais de 55 mil novos postos de trabalho.

O desempenho do estado em 2022 vai no sentido oposto ao resultado da indústria nacional que, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu 0,1% em fevereiro após alta de 0,1% em janeiro, o que aponta para um cenário de estagnação. Antes do resultado negativo em fevereiro, o emprego industrial vinha de três altas consecutivas desde novembro, com crescimento acumulado de 0,5%.

O indicador de faturamento real apresenta quadro semelhante. Após três altas consecutivas, que totalizaram aumento de 6,6% entre novembro e janeiro, o índice recuou 0,2% no último mês. O deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP) destaca que mesmo os três meses consecutivos de alta do emprego e faturamento industrial antes do leve recuo em fevereiro devem ser vistos com cautela. “Já achar que tem uma retomada da atividade industrial por causa de três meses é um pouco perigoso”, aponta.

Ele afirma, porém, que há “estímulos econômicos” em andamento que, aliados à queda do dólar, ampliam as chances de retomada da atividade industrial de forma sustentável. “Todos os estímulos estão sendo feitos, como a liberação do FGTS, o consignado ter aumentado e ampliado pro BPC e pro Auxilio Brasil e também essa questão do microcrédito, tudo isso tende a estimular a economia. Há um risco inflacionário caso não tenha oferta suficiente para a demanda”, reforça.

Para o economista William Baghdassarian, é possível falar que a indústria passa por um momento de retomada da atividade. No entanto, o desempenho instável dos indicadores se deve a fatores positivos e negativos, explica.

“À medida que a pandemia começa a recuar, a gente tem um crescimento natural da atividade e a maturação daquelas reformas [trabalhista e previdenciária], que começaram a dar alguns efeitos. Outro fator positivo é que a gente conseguiu atrair investimentos e destravar uma agenda de infraestrutura. São forças que puxam na direção de dizer: ‘sim, estamos voltando a crescer’”, avalia.

Mas há sinais na direção oposta, diz o economista. A indústria ainda sente os efeitos da pandemia em relação ao transporte marítimo e contêineres que ficaram parados nos portos, o que gerou problemas de distribuição nessa retomada. Há também escassez de componentes eletrônicos, alta no preço dos combustíveis e a guerra entre Ucrânia e Rússia. “Quando a gente junta tudo isso num campo externo, isso é na direção de puxar nosso crescimento da indústria para baixo”, avalia.

No nível interno, Baghdassarian afirma que a taxa de juros e a inflação também contribuem para o vai e vem dos indicadores industriais. “Quando a gente subiu a taxa de juros para conter a inflação, o crédito para essas empresas ficou mais caro. Então, no curto prazo, o capital de giro é mais caro e, no longo prazo, muitos projetos de investimento deixam de ser viáveis. Além disso, a inflação é um fator de risco. Isso pode ser demonstrado, por exemplo, na confiança da indústria, que está patinando”, afirma.

UCI

A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) permaneceu estável entre janeiro e fevereiro, mas o indicador vem de quedas consecutivas desde junho de 2021. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a UCI está em 81%. Em junho do ano passado — último mês em que o indicador subiu — a UCI alcançou 83,3%, o ponto mais alto desde 2014.

A UCI é o índice que mede a quantidade de máquinas e equipamentos da indústria que estão em uso para atender à demanda. Quanto menor esse indicador, mais ociosidade há nas empresas. Na prática, significa que há mais máquinas e equipamentos parados do que havia em junho de 2021.

Para o deputado federal Pr. Marco Feliciano (PL-SP), a queda da UCI indica que a demanda para alguns setores não exige a utilização de toda a capacidade existente, o que tende a mudar com base nos investimentos que estão chegando. “Nesse caso podemos usar a teoria do copo meio vazio, pois o BNDES tem batido recordes de financiamento para equipamentos e máquinas novas de grande porte, pois modelos mais modernos são lançados diariamente e, na hora adequada, todos voltarão a ser operados no mesmo diapasão”, acredita.

Segundo a deputada federal Policial Kathia Sastre (PL-SP), a queda da utilização da capacidade instalada tem relação direta com a perda do poder de compra dos consumidores que, por sua vez, é causada pela inflação. A inflação acumulada nos últimos 12 meses é de 11,3%, de acordo com o Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE).

“Esse [a queda da UCI] é um aspecto importante, que precisa ser observado de perto. Apesar do esforço realizado pelo Governo Federal durante toda a pandemia, a inflação tem subido e preocupa. A vida tem ficado mais cara, o que reduz a procura por novos bens e, consequentemente, a demanda cai”, avalia.


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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