E se o abandonado Iate Clube Santa Paula ressurgisse como a unidade Sesc Guarapiranga?

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Espaço de 15 mil m² chegava a atender 17 mil associados em um domingo de sol

Arquiteta Fernanda Silva usa das memórias marcantes como um apelo para reutilizarmos o lendário espaço


Nascida e criada em Veleiros e região, a recém formada em Arquitetura e Urbanismo pela FAAP, Fernanda Silva, aproveitou histórias que ouvia dos mais antigos e curiosidades próprias enquanto foi crescendo pela Zona Sul, para onde decidiu trazer uma importante solução sociocultural para nossa região em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC): Resgatar o Iate Clube Santa Paula.

“Eu passo pela Av. Atlântica desde que me entendo por gente. Eu sempre passava pelo Iate Clube e pensava no quanto o edifício era grande. Achava diferente e ficava intrigada”, explica sua indagação, a arquiteta de 23 anos, Fernanda Silva. “O que mais me impressiona é o túnel subterrâneo entre o clube e a parte náutica na represa, por baixo da Av. Atlântica. Por curiosidade, foi extremamente caro esse túnel e só foi construído por influências dos arquitetos Artigas e Cascaldi, responsáveis pela obra de reforma do Iate Clube”, completou.

Veja como era o antigo Iate Clube Santa Paula e toda a sua importância de consolidação da Av. Atlântica como principal via da Zona Sul nas décadas de 1970 e 1980

A jovem sonhadora não possui apenas um desejo de revitalizar um antigo espaço arquitetônico por nada. Atualmente, Fernanda é arquiteta na Secretaria Executiva do Programa Mananciais, cuja secretária é quem entende muito bem da nossa Zona Sul, a querida Elisabete França. “O mais incrível é que a Bete foi minha professora e orientadora do meu TCC. Apresentei mais de cinco propostas de temas e,quando mencionei do Iate Clube, ela me incentivou imediatamente”, disse.

Fernanda explica sua proposta: “A ideia é usar os 15 mil m² de área e resgatar o maior clube náutico, principalmente, das décadas de 1970 e 1980. Basicamente, para ter esse espaço e que possa ser totalmente multifuncional entre clube, arte, entretenimento, lazer, cultura, esporte, gastronomia, entre outros, é a criação da Unidade Sesc Guarapiranga”. O jornalista da Gazeta de Santo Amaro, Matheus Laube, completou a ideia: “isso vindo de um incentivo público, a não ser que uma iniciativa privada, de repente até uma PPP, possa entender o que esse clube significava para os munícipes locais e dar vida a um edifício tombado como patrimônio histórico, e que possui muitas lendas acerca de seus dias de glórias”.

Mas, para entender tudo o que Fernanda está propondo, que tal você mergulhar a fundo em toda a sua aventura durante a produção de seu Livro, maquetes e propostas para o Iate Clube em uma nostálgica conversa, parecendo um roteiro de ‘De Volta para o Futuro – Versão Zona Sul’.

O túnel subterrâneo dava um ar extremamente modernista e ousado para a época, transformando o Iate Clube no maior clube náutico de São Paulo

“A falta de informação foi um problema. A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP possui algumas plantas originais, mas não todas. A parte do clube apesar de estar nos arquivos, não aparenta ser exatamente como o que foi construído de fato”, constatou Fernanda.

Santo Amaro ainda tem muito dessa cultura bairrista, por conta disso, é só mencionar o Iate Clube que alguém mais antigo, com certeza, tem pelo menos uma história para relembrar. “Meu pai sempre contou várias histórias de como era a Av. Atlântica antes. Ele me convenceu de que era possível conseguir fotos e ir atrás de informações. A parte histórica eu levei oito meses para concluir. Poderia ter demorado menos, mas é que me apaixonei por cada história e cada lembrança ou foto que descobria do Iate Clube e suas vivências”, conta Fernanda.

Através de suas pesquisas, Fernanda constatou que o auge do Santa Paula era receber cerca de 17 mil associados em um domingo de sol. “Pra se ter noção de como era uma construção fora dos padrões de toda a cidade de São Paulo, ele foi inicialmente projetado pelo arquiteto polonês, Mieczyslaw Grabowski para ter 15 pavimentos [15 andares], o que era uma construção colossal e totalmente proibida nos dias de hoje com leis específicas para as represas. O túnel de acesso para a parte náutica também não seria nada permitido. Ainda bem que só construíram três pavimentos (andares), e mesmo assim sua estrutura é robusta e complexa, o que foi bastante trabalhoso em fazer os desenhos e maquetes”, explicou Fernanda.

Se a estrutura de 3 andares já ocupa um imenso espaço, imagine que loucura seria se o Grande Hotel de Interlagos realmente fosse erguido? A represa Guarapiranga agradece o projeto não finalizado!

Os desafios do projeto se deram pelo fato de que a entrada pela Av. Atlântica possui uma altura, enquanto que a entrada pela Avenida Berta Waitman está um nível acima, onde o edifício central e sua lâmina lateral (edificação lateral) possuem alturas e andares que não seguem os mesmos pés direitos. Portanto apesar de parecerem ter a mesma altura, olhando de fora, internamente têm andares distintos.

“Somente a piscina possui 1.200 m², do tamanho da Creche Marina Crespi, na Mooca, que era o TCC de uma amiga. Até estranhei na maquete e foi aí que caiu a ficha do quão imenso é esta obra, arquitetonicamente e socioculturalmente falando”, compara Fernanda.

Fechado e em estado de abandono, ao longo dos anos, desde o seu fechamento em 1988, sempre houve interesses públicos e privados para dar uma sequência naquele que se tornara o maior clube náutico da cidade de São Paulo. Mas nenhuma obra foi executada de fato. “Sei e pesquisei muitas dessas propostas. A minha ideia, contrária a praticamente todas elas, é manter o espaço à beira da represa com caráter de garagem náutica, ao invés de tornar restaurantes como preveem. A av. Atlântica já possui excelentes restaurantes com essa vista linda, mas a garagem náutica com entrada subterrânea por baixo da Av. Atlântica é somente uma e precisamos reviver essa singularidade”, solucionou a arquiteta.

Reativar o Iate Clube Santa Paula seria benéfico em todos os aspectos para o bairro, transformando a cultura, arte, gastronomia, lazer, entretenimento e educação da região, e tudo isso num só lugar!

A maior aventura que Fernanda viveu foi, de fato, conseguir autorização para poder tirar fotos e entrar no abandonado local. “Eu fui com o meu namorado para tirar fotos internas, e quem sabe descobrir curiosidades, e descobri que existe o Seu Tião, que já frequentou e compartilhou muitas lembranças, e que é o guardião do Iate Clube, mesmo abandonado. Ele não deixa ninguém entrar”, disse.

O que eram para ser fotos de drone e por fora do prédio, se transformou numa aventura que pode ressuscitar um dos grandes e esquecidos cartões postais de nossa amada Zona Sul. “O mais engraçado é que um dia minha mãe foi à missa no domingo. E, do nada, ela me mandou uma mensagem de um contato falando que era essa a fonte para entrar no Iate Clube”, relembra Fernanda sobre a mensagem suspeita da mãe.

O que aconteceu é que sua mãe simplesmente se sentou ao lado do Prefeito Ricardo Nunes na missa e contou sobre o TCC de sua filha. O Prefeito Ricardo Nunes, como típica cria da Zona Sul, passou o contato certo para que Fernanda entrasse no Iate Clube. “Nossa, é simplesmente o Prefeito da maior cidade da América Latina. Eu fiquei lisonjeada com sua atenção inesperada. Para resumir, entrei em contato com um advogado, que é quem, no fim, insistindo e explicando com todos os argumentos de que se tratava de um trabalho acadêmico, me deixou entrar por 40 minutos para fotos internas de locais que eles autorizassem”, disse.

Imagine como era viver em um clube que chegava a receber cerca de 17 mil associados em um domingo de sol? Vamos relembrar este momento?

Enquanto ela visitava, Tião e o advogado relembraram momentos enquanto eram sócios do clube e uma história que foi a que mais chamou a atenção de Fernanda, o misterioso show do Rei Roberto Carlos no Iate Clube Santa Paula, em 1973. “É sério, eu fiz questionários em grupos de facebook do bairro, encontrei muitas lembranças e fotos, inclusive relatos de até onde poderia ter sido montado o palco. Mas não obtive nenhuma foto do espaço onde eram realizados os shows no Iate Clube. Eu realmente fiquei muito curiosa sobre a veracidade desse fato”, explicou pedindo para que os munícipes que lerem esta reportagem possam ajudar a seguir expandindo a pesquisa e se tiverem mais informações e imagens, que mandem um email para seguirmos documentando todas as lembranças e registros de suas vivências no clube…

“Recentemente, o Sesc anunciou uma lista de novas unidades, durante meu TCC conversei com o arquiteto responsável pelo Sesc Santo Amaro, que adorou a ideia e teve um parecer positivo sobre esta ideia se tornar concreta”, finaliza a arquiteta Fernanda Silva.

Após ouvir a apresentação de Fernanda, o Grupo Sul News se solidariza com as memórias que Fernanda resgatou em seu trabalho e faz um apelo para que lideranças e empresários olhem para o espaço, tão vibrante e protagonista no passado, podendo ter a chance de reviver isso em outra ocasião, para outra geração! Se você foi sócio do Iate Clube, participe da pesquisa feita por Fernanda clicando aqui.

“E vou além, por que não chamá-lo de ‘Sesc Iate Clube’, só pra relembrarmos de toda a riqueza sociocultural que só a Zona Sul possui?”, completou Matheus Laube.

Este é o projeto da arquiteta santamarense Fernanda Silva, o que achou, munícipe? O Grupo Sul News adoraria vê-lo como o grande cartão-postal da Zona Sul novamente!

SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

3 COMENTÁRIOS

  1. Sou favorável a revitalização de obras de importância artístico culturais, mas o Santa Paula sempre foi um clube elitista, onde nos, reles mortais jamais entramos. Em 1973, eu circulava por ali, e nunca tivemos acesso. Uma vez restaurado, mesmo que seja uma unidade do Sesc, que seja permitida a entrada de pessoas para conhece-lo.

  2. Amigos do Sul News… essa é uma excelente notícia…

    Tomara essa magnífica ideia de projeto, siga avante e seja de fato concretizada!

    * SESC IATE CLUBE; Sim, seria de fato um ótimo nome, ao icônico e histórico espaço, em Interlagos.

  3. Fiquei muito feliz com as notícias atualizadas, a respeito do clube que fez parte da minha infância. E que faz parte da história da minha vida, como um lugar saudável, cheio de diversões felizes! E muito bonito!!! Nossa… e como era chique!!! Eu, meus pais e meus irmãos éramos sócios na década de 70. Só que infelizmente, não tenho fotos!! E meu grande sonho é rever imagens detalhadas dessa época! Lembro-me de histórias incríveis…Parabéns a todos, pela brilhante intenção de restaurar este local, tão glamuroso!! Que acredito fazer parte das memórias felizes de muita gente! Felicidades!!!

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