ARTIGO: Raiva além da hidrofobia

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Por Ricardo Viveiros


Começam as campanhas de vacinação contra a raiva. A época foi escolhida em homenagem ao cientista francês, Louis Pasteur, criador da primeira vacina contra a raiva, que morreu em 27 de setembro de 1895. A iniciativa é da Aliança Global para o Controle da Raiva, instituição com o objetivo de criar consciência, promover a prevenção e o tratamento da doença em humanos e animais.

A raiva humana, hidrofobia, no Brasil é uma doença endêmica. No Sul, praticamente desapareceu. No Norte e Nordeste ainda são notificados casos transmitidos por animais domésticos ou silvestres. Para ocorrer o contágio, além da mordida basta um contato com a saliva do animal doente.

O cão e o gato são os principais transmissores da doença nos ambientes urbanos. No rural, também os morcegos. De acordo com os sintomas apresentados, a doença pode manifestar-se de duas formas diferentes: raiva furiosa ou raiva muda. A melhor forma de prevenção da hidrofobia é manter, em dia, a vacinação de animais. A primeira dose deve ser aplicada aos três meses de idade e, depois, uma vez por ano, todos os anos. A vacina é gratuita e oferecida pelos órgão públicos de saúde.

Como temos observado, há outra espécie dessa mesma doença que tem crescido e infelicitado famílias, círculos de amizade, colegas de estudo e trabalho, vizinhos e por aí vai o seu alcance. É a raiva emocional. E não há vacina, embora haja remédio. Este tipo de raiva é um estado momentâneo de nervosismo intenso diante de alguém que pode provocar ataques de agressividade verbal, ou até física. Esta emoção nasce de um bloqueio, surge frente a um obstáculo insuperável. Em geral, é causada pela verdade.

A reação do corpo, a partir da raiva, é de desequilíbrio emocional. As consequências da raiva como sentimento são: violência, agressão física ou verbal; sempre gerando péssima conduta. A raiva acelera o cérebro de tal forma que perdemos o equilíbrio, e a energia se espalha desordenadamente. Interessante observar que sem inteligência emocional a raiva é destruidora, porém se administrada corretamente pode ser um alerta sobre nosso mundo interno e algumas necessidades que estamos deixando de lado.

Viver frustrações faz parte da vida, como ganhar e perder. Quando ainda crianças, se não entendemos e superamos normais decepções há o risco de sermos adultos intempestivos, irritados, raivosos, violentos. Pessoas de “pavio curto” que não hesitam em explodir quando são contrariadas nas suas certezas – que são versões dos fatos, não a verdade.

Isso deixa bem claro que, nesses casos, cabe amadurecer a capacidade de resistir às frustrações de haver errado e aceitar ser, naturalmente, criticado por isso. Só assim o nível de raiva tende a diminuir. Claro que há fatores geradores de compreensível insatisfação: ter consciência de que não está preparado para exercer uma determinada responsabilidade; estar cercado de pessoas incapazes; não saber dialogar; ter preconceitos e discriminar pessoas contra as quais não há razões para atacar; desejar ser amado por todos, mas não merecer tal reciprocidade. E muitos outros motivos.

Pois é… Seja qual for o tipo de raiva, é preciso – nesta época dedicada ao combate dela -, conhecer os cuidados preventivos elementares: Não chegar perto de cães, gatos, morcegos e pessoas desconhecidos, feridos ou que estejam se alimentando – mesmo que tenham a aparência de mansos; Respeitar os espaços em que vivem mamíferos silvestres e urbanos que podem ser reservatórios naturais de problemas; Não apartar brigas entre animais, incluindo de familiares próximos e parceiros; Não mexer com fêmeas e suas crias; e Utilizar guias curtas, coleiras e focinheiras nos animais que demonstrem agressividade.

Qualquer semelhança com certas personalidades públicas não é mera coincidência, é um responsável alerta para prevenção e, quem sabe, até cura.


Ricardo Viveiros é jornalista, escritor e professor

SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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