ARTIGO | Catar, a nova Suécia do Oriente Médio?

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Os países declarados neutros são um porto seguro para países e organizações beligerantes negociarem trégua humanitária, libertação de presos políticos, trocas de espiões e firmarem acordos de paz.

Esse papel foi brilhantemente desempenhado pela Suécia durante a chamada Guerra Fria (entre 1947 – 1991) e mais recentemente na negociação da libertação do estudante australiano Alek Sigley, em 2019, preso por acusação de espionagem na Coreia do Norte.

Esse país escandinavo, assim como outros, tem atuado com discrição, imparcialidade, sendo por vezes negociador ou mesmo um intermediário diplomático.

No entanto, outro país que possui um protagonismo nesse campo, porém um pouco desconhecido do Ocidente, é o Estado do Catar, ou simplesmente o Catar. A nação possui uma política internacional própria, pragmática e enigmática. Se por um lado hospeda uma base militar conjunta americana e britânica (Base Aérea Al Udeid), no outro, permitiu a criação de uma representação política do Taleban, do Hamas. Além de laços estreitos com o Irã (Xiita), a despeito de, majoritariamente, sua população ser muçulmana sunita.

Nesse sentido, recentemente, mediou o acordo entre os Estados Unidos e o Irã para a liberação de cinco cidadãos norte-americanos, em troca do descongelamento de seis bilhões de dólares em fundos iranianos, além da libertação de cinco iranianos sob custódia americana.

E agora, está envolvido na mediação do acordo entre Israel e o Hamas para libertação dos sequestrados e por uma pausa humanitária na faixa de Gaza, que permitirá a liberação de 50 reféns detidos pelo Hamas por 150 prisioneiros palestinos. Esses compostos de mulheres e crianças, que ora estão em prisões israelenses, além da “trégua” citada.

Não é de hoje que o Catar quer ocupar um lugar de destaque entre as médias potências mundiais, exercendo um grau limitado de influência global. Seja sediando eventos, como a Copa do Mundo FIFA de 2022, seja financiando emissoras como a Al Jazeera e/ou se apresentando ao mundo como um país moderno, dinâmico e, agora, negociador.

Por fim, resta saber qual o real interesse do país nesse conflito. Será a busca pelo protagonismo em prol da paz regional? Ou será uma possível resposta à tentativa de aproximação diplomática entre Arábia Saudita e Israel?

Evandro Soares é professor da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB) e coordenador do Laboratório de Prática Jurídica


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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