ARTIGO | Psicologia, bullying e prepotência

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Atualmente, um dos principais problemas emocionais apresentados por crianças e adolescentes gira em torno do bullying, termo que denomina violência física, moral e psicológica entre jovens. A psicologia se ocupa de entender a posição da vítima como a do agressor, e a busca de conceitos para explicar esse fato ajudam na prevenção e intervenção nas situações mais presentes.

Uma das necessidades básicas segundo a psicologia é a de dominação, isto é, exercer poder ou controlar o próprio ambiente. Há, assim, dois lados nos quais isso pode se desdobrar: um regido pela Virtude, onde utilizamos as nossas aptidões para resistir a experiências ruins, adversidades, e fomentar ações e modificações boas, harmoniosas ao nosso redor; por outro lado, quando buscamos nos aproveitar, ou em vista da autoimposição, agimos com Virtú, palavra utilizada pelo filósofo Nicolau Maquiavel para designar a moral astuta de um indivíduo que quer ficar em uma posição de poder. É possível que o jovem que cometa o bullying tenha internalizado regras rígidas, não empáticas ou experiências ruins em seu meio familiar, o que criou crenças sobre si e os outros que o fazem ser prepotente e agressivo, como forma de “compensar” seu senso irreal de relações.

Nisso, entender o bullying enquanto prepotência pode refinar a análise desse comportamento, pois a “pré-potência” indica tanto uma avaliação exagerada da própria capacidade, assim como a preparação para agir em um contexto incerto, ou mesmo ameaçador, sem medida de força. Enquanto parte da Virtú a prepotência garante a perpetuação de um indivíduo ou seu grupo identitário na posse do poder, elemento este que, ao invés de voltar-se para dentro e governar o próprio ímpeto e as próprias emoções, apenas reproduz e replica sua influência coercitiva.

O tratamento para quem é vítima do bullying é “descompensar” essa balança irreal do prepotente e garantir consciência de suas próprias capacidades e comportamentos, olhando o problema horizontalmente e assumindo forças para reagir adequadamente. O apoio dos pais é crucial, e se desenvolve dialogando demoradamente sobre as emoções, suas influências, e trazendo a Virtude para o centro da personalidade.

João Igor de Moraes é Psicólogo (CRP 06/180298), terapeuta em consultório clínico e pesquisador da história da psicologia, filosofia e cultura


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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