Pedido de tombamento do Complexo Ibirapuera é rejeitado e processo de privatização continua

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O pedido de tombamento do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, que inclui o Ginásio do Ibirapuera, foi encabeçado por especialistas da área de Arquitetura e Urbanismo preocupados com o projeto de privatização do Governo de SP que prevê transformar o local em um shopping, com a implantação de lojas, área de alimentação, pista de skate, playground e até um hotel. A arena esportiva também deve aumentar para receber 20 mil pessoas


Desde o ano passado, o Governo de São Paulo tem planos para privatizar o Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, que inclui o Ginásio do Ibirapuera, o Estádio Ícaro de Castro Mello, o Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo, o Ginásio Poliesportivo Mauro Pinheiro e o Palácio do Judô.

Em outubro, a Secretaria Estadual de Esportes até abriu uma consulta pública para saber a opinião da sociedade. A população opinou e pediu o tombamento do Complexo, ou seja, a preservação do local para que nada seja descaracterizado.

Porém, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) rejeitou o pedido de tombamento e o processo de privatização continua. Então, prédios históricos do Complexo podem ser derrubados para dar lugar ao novo projeto que prevê uma arena esportiva com capacidade para 20 mil pessoas (já que atualmente cabem 10 mil na arena), além de um espaço semelhante a um shopping, com a implantação de lojas, área de alimentação, pista de skate e playground. O projeto também prevê a construção de um hotel.

“Quando o órgão decide abrir o estudo para o tombamento, ele dá uma oportunidade para a sociedade civil debater com seriedade o destino que quer dar àquele determinado prédio ou espaço. Essa decisão açodada não permite que a população reflita sobre o destino de um lugar tão significativo para a cidade, numa área tão central e importante. O projeto do governo paulista tira, principalmente, a pluralidade do complexo, que é uma área onde pessoas de várias classes sociais frequentam e está atrelado à formação de atletas importantes. Com essa concessão, sai a pluralidade e o espaço se transforma em mais um centro de consumo, com shopping e hotel, como se a cidade já não tivesse o suficiente”, afirma Ana Lucia Duarte Lanna, ex-presidente do Condephaat entre 2013 e 2015.

Especialistas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) já se posicionaram contra a privatização com a justificativa de que o equipamento é um dos principais locais da história da arquitetura brasileira. “São diferentes os motivos que justificam a preservação do Conjunto Desportivo ‘Constâncio Vaz Guimarães’, onde se localiza o Ginásio do Ibirapuera. Esse último edifício deve ser protegido por questões estilísticas e construtivas, mas também pela sua importância dentro da arquitetura moderna brasileira e da modernização do esporte e da cultura da cidade de São Paulo em meados do século XX”, afirmam.

Projeto do Governo para o Complexo Ibirapuera

O Governo de São Paulo, no entanto, esclareceu que: “o Complexo do Ibirapuera NÃO será substituído por um shopping. A concessão, que tem como prioridade atividades esportivas e culturais, exige uma arena multiuso para 20 mil pessoas no local. O objetivo é modernizar os equipamentos e atividades esportivas do espaço e, assim, gerar renda e empregos na capital paulista. O espaço esportivo, antes restrito somente a algumas poucas pessoas, será aberto para a prática de esportes e lazer de toda a população”.

De acordo com o Governo, o Complexo gera um gasto de R$ 18 milhões por ano com manutenção, enquanto a arrecadação é de R$ 2,5 milhões, aproximadamente. Com a concessão, pelo período de 35 anos, o Complexo vai garantir R$ 220 milhões em melhorias.

Um abaixo-assinado popular, que já tem mais de 27 mil assinaturas, continua em vigor contra a privatização do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, que começou a ser construído em 1954 e foi inaugurado em 1957. O local foi projetado pelo arquiteto Ícaro de Castro Mello, que também foi atleta recordista sul-americano de salto em altura e salto com vara, membro da equipe brasileira de atletismo nas Olimpíadas de Berlim, em 1936.


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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