Mudanças Climáticas: o que São Paulo está fazendo para combatê-las

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Créditos: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Secretaria de Mudanças Climáticas foi criada para traçar planos e metas de combate ao aquecimento global na cidade

As mudanças climáticas são inegáveis. Diariamente o mundo está sendo colocado diante de números e acontecimentos que comprovam os seus efeitos e o aumento da temperatura da terra. Um exemplo didático de percepção destas mudanças são as ondas de calor, que estão mais longas e frequentes.

A cidade de São Paulo está no centro desses problemas. Duramente atingida por fortes ondas de calor nos últimos meses, inclusive durante o inverno, as previsões para o futuro não são animadoras. Um estudo feito pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e Instituto Geológico, estima que até 2050, regiões do estado de São Paulo podem ficar 6º C mais quentes e que as ondas de calor podem durar mais de 150 dias consecutivos.

Diante de tal previsão, é preciso pensar em medidas para conter as mudanças e lidar com os efeitos delas. Com este objetivo, o então Prefeito Bruno Covas, criou a Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas (Seclima) em dezembro de 2020. Meses depois, a secretaria ganhou forma já na gestão de Ricardo Nunes.

Hoje, a Secretaria está ligada à Secretaria de Governo e tem uma atuação junto às demais Secretarias e também da academia, de entidades da sociedade civil, associações, empresários e etc. A Seclima atua em diversas frentes, seja na contenção dos efeitos, que já estão acontecendo, como as ondas de calor e nas medidas de prevenção para o futuro. “Nosso papel é muito de articulação, de conversa com as entidades para que a gente possa executar e diminuir a variável climática. Nós temos um plano de ação climática. E a partir desse plano, que tem metas definidas por anos, traçamos o planejamento dos trabalhos”, explica Luciana Feldman, chefe de gabinete da Seclima.

O planejamento em questão é o PlanClima SP (Plano de Ação Climática de São Paulo) que tem definido mais de 43 ações para reduzir as emissões de gases do efeito estufa até 2030 e, até 2050, zerar as emissões. Mas a Secretaria também tem outros projetos de atuação, como o Plano de Contingência Baixa Umidade, a Operação Integrada em Defesa das Águas e os Embaixadores pelo Clima, que trabalham em parcerias com cidadãos que realizam trabalhos em prol do planeta.

Abaixo você confere uma entrevista exclusiva que Luciana concedeu ao Grupo Sul News.

Luciana Feldman, chefe de gabinete da Seclima, em evento de sustentabilidade

Grupo Sul News (GSN): Primeiro me falasse um pouco sobre você, o que que você faz aqui na Secretaria, como chegou aqui e qual que é a sua relação com as pautas ambientais?

Luciana Feldman (LF): Sou chefe de gabinete da Secretaria de Mudanças Climáticas. Eu vim pra cá com o Gilberto Natalini, uma pessoa com quem eu trabalhei muitos anos da minha vida. Acho que foram 16 anos na Câmara e aí eu estava no Governo do Estado, quando ele foi convidado para ser secretário, me convidou para que assumisse aqui a chefia de gabinete no mandato dele. Sou publicitária, mas sempre atuei na área de direitos humanos em saúde. Mas no mandato do Natalini eu tive muito contato com a questão ambiental. Depois a gente foi para Secretaria do verde, em que eu fui diretora de comunicação quando ele foi secretário e aí comecei a me envolver muito com as pautas ambientais e aqui ainda mais. Também é importante ressaltar que a questão climática não é só a pauta ambiental. É muito além disso. A gente mexe desde a questão de obras até a parte social. Tem uma série de secretarias envolvidas nessa pauta.

GSN: Como que é o trabalho na Secretaria? Vocês trabalham com base em estudos, em previsões, em parcerias com instituições do terceiro setor? E as ações que vocês fazem aqui, são mais do presente como, por exemplo, medidas para as ondas de calor ou para o planejamento futuro?

LF: É uma Secretaria de articulação, por isso que o prefeito Ricardo Nunes achou tão importante que ela tivesse ligada a Secretaria de Governo e não a Secretaria de Meio Ambiente. Porque acaba trabalhando com todas as demais secretarias. Então é um papel muito de articulação, e não só com a prefeitura, mas também com as Secretarias de Estado, com a academia, com é entidades da sociedade civil, com associações, empresários, indústria, comércio, enfim. Nosso papel é de conversa com todas essas entidades para que a gente possa executar e diminuir a variável climática. Nós temos um plano de ação climática, e a partir desse plano, que tem metas definidas por anos, então vai de agora até 2050, nós temos ações que tem que acontecer agora e ações que vão acontecer daqui cinco anos, daqui 10, 15 anos. Tudo isso está descrito no Panclima. Agora estamos no momento de revisão. Esse plano é muitas secretarias que são extremamente importantes, não estavam na primeira versão. Agora a nossa próxima etapa é revisar o plano e incluir outras secretarias, como por exemplo, as sociais, então Assistência Social, Direitos Humanos, Pessoa com Deficiência. Todas essas não constam no plano, mas elas são fundamentais. A meta para zerar a emissão de CO2 é até 2050. Então são metas a curto, médio, a longo prazo.

GSN:Você falou uma coisa muito importante, que o Ricardo Nunes fez questão de ligar a Secretaria de Governo, o que é bem diferente. E aí, pensando nas eleições no Brasil, a gente tem um costume que quando muda a gestão, muda-se tudo o que está fazendo, inclusive o que está dando certo. Então, têm algum planejamento, por exemplo, de fazer alguma ação ou alguma coisa que se mantenha, mesmo que a gestão não se mantenha?

LF: A partir do momento que existe um plano, ele deve ser cumprido. Então, teoricamente ele tem que ser cumprido. Muita coisa foi feita nessa gestão e que vai ficar. Por exemplo, foram assinadas compra de 32 áreas verdes na cidade. É hoje a gente tem é 15% de mata remanescentes que não podem ser mexidas com essa compra, a gente vai chegar a 26%, ninguém vai poder mexer nisso, está assinado, está sendo comprado. Aliás, até o final do ano praticamente todas essas áreas já vão ser compradas. São áreas que vão ter que ser verdes para o resto da vida. Foi investido quase 8 bilhões, até o final do ano vai chegar em 8 bilhões em micro macro drenagem e jardins de chuva. Outra gestão até pode mudar, mas seria muita burrice fazer isso, né? Então são obras que vão ficar. Hoje, na cidade de São Paulo a gente até tem alagamento, mas a vazão é muito rápida. É por isso que os estragos não são maiores, por isso que aqui é muito difícil acontecer o que aconteceu no Rio Grande do Sul, por causa desses investimentos que o prefeito Ricardo Nunes.  Então as principais medidas foram o plano de ação climática, nosso carro chefe. A partir dele que a gente consegue é pensar nas no que cada Secretaria tem que fazer. A gente tá linkando o plano de ação climática ao plano de metas, que também é fundamental para que as coisas saiam do papel. Temos aqui o comitê gestor de mudança da matriz energética dos veículos de São Paulo. A gente já tem é a frota de ônibus sendo substituída pelo elétrico, tem muitos problemas, mas é que não depende da prefeitura para essa implantação. Mas temos 415 ônibus elétricos rodando na cidade, a nossa frota da GCM foi toda eletrificada é os caminhões. Com esse novo contrato dos caminhões de resíduos, eles estão sendo mudados também para caminhões com biometano ou biogás. O aquático também está aí, para quem gastava 1 hora e 20 pra fazer o percurso, hoje faz em 17 minutos. Nós temos aqui também o nosso plano preventivo de chuvas de verão. Nós fazemos a coordenação, mas a coordenação operacional é da Defesa Civil e de cada Secretaria envolvida apresentar o seu plano de ação. Se tem uma chuva forte, a Defesa Civil convoca todas essas outras secretarias e cada um já sabe o que tem que fazer. Hoje, acabamos de publicar o plano de contingência, de baixa umidade que estamos trabalhando junto com o comitê emergencial de altas temperaturas. Na verdade, esse plano ele começou em maio e foi publicado agora. Mas a gente fez um emergencial por conta da baixa umidade que a gente tá vivendo e isso também. Também temos a Operação Integrada em Defesa das Águas (OIDA), que é um convênio com o Estado de São Paulo. Aqui atuam quatro subprefeituras, que são Parelheiros, M’Boi, Capela do Socorro e Cidade Ademar. É uma luta bem pesada, porque a gente tá falando com o crime organizado e da noite para o dia eles derrubam tudo. Mas estamos fechando uma parceria com o estado para poder melhorar o monitoramento tecnológico, com drones, satélites e defender essas áreas de manancial, porque a gente tá falando do reservatório de água da cidade. Diariamente temos reuniões pra que a gente possa absorver também o que a sociedade civil pode trazer, a academia principalmente. Às vezes, o poder público, ele tem uma visão do que está de fato acontecendo ali na ponta. Então é importante que eles tragam essas demandas, essas necessidades, para que a gente possa englobar aqui na prefeitura e poder trabalhar isso.

GSN: Na questão das áreas comandadas pelo crime organizado, onde a população é refém do que acontece ali, como é que é essa negociação? Vocês têm de repente, algum tipo de conversa com a população?

LF: Na verdade, assim, todo mundo que compra essas casas não está sendo enganado, né? Porque de alguma forma ele não vai receber uma documentação. Tem uma série de coisas. Nós temos uma Secretaria de Mananciais que constrói habitação nessas regiões para levar essas pessoas para uma casa mesmo e não na ali na beira da represa. Sempre que vai ter um desfazimento, a nossa Secretaria de Assistência Social tem que acompanhar. Ela vai antes, ela conversa com essas pessoas. Agora acontece, por exemplo, de alguém descobrir por algum motivo que vai ter uma operação. Às vezes eles já estão com a liminar esperando pra que a gente não faça esse desfazimento. Então tem pessoas no meio de tudo isso que denunciam, enfim, tem uma série de dificuldades. É uma operação que que não é fácil você tirar as pessoas e existe também várias técnicas que eles criaram, por exemplo, a gente não pode derrubar nenhuma casa que seja habitada, é só casas inabitadas. Quando eles sabem que a gente está indo para lá, eles colocam um bule, um fogão, um colchão, uma boneca para falar que a casa está habitada e não tem ninguém ali ou até pagam para alguma pessoa ficar ali dentro para falar, eu estou morando aqui. Também fazem algumas casas germinadas e a gente não consegue derrubar, porque se derrubar uma pode derrubar a outra. Temos um coronel da reserva da PM, que coordena a OIDA para que a gente possa conter essas invasões.

GSN: Sobre o Planclima, como é que vocês trabalham? Tem um planejamento de ações de cada ano? Tem uma meta para ser alcançada com relação a 2024 e o que já foi feito?

LF: O Panclima é um relatório anual, então todo ano a gente apresenta e conversa com cada uma das secretarias envolvidas, vê o que está em andamento, o que não está. Estamos com quase 80% das ações em andamento ou concluídas ou em andamento. É um número bastante positivo, sendo que algumas são metas para 2050. Eu acho que o mais emblemático foi a assinatura da compra das 32 áreas, mas teve esse investimento em micro e macro drenagem. Hoje, temos quase mil hortas na cidade, tanto em escolas, unidades de saúde, as hortas rurais e tudo mais. Temos 72 mil habitações populares, que tira essas pessoas da área de manancial. Conseguimos o plano preventivo de chuva de verão de 2023-2024, que não teve nenhuma morte causada diretamente por chuva, até tivemos episódios e uma pessoa que que faleceu, porque avisaram que não era pra sair com o carro e ela saiu e aí infelizmente veio a óbito, mas não teve nada causado diretamente, é, nós tivemos a compra dos ônibus elétricos do aquático.

GSN: Há duas semanas tivemos aquela forte tempestade que causou muitos problemas. Como é que a Secretaria atuou neste evento?

LF: Não é diretamente com a gente. O prefeito fez uma reunião com vários secretários, em que o nosso esteve presente, mas como a gente não executa, a gente dá conselhos. Mas é toda uma ação integrada da prefeitura. A Defesa Civil já se coloca junto com a CET. As subprefeituras tiveram um trabalho, passaram madrugadas trabalhando forte na retirada das árvores. Foram colocados geradores aonde não tinha luz. O prefeito, ele praticamente ficou uma semana fora da campanha eleitoral. Então a cidade agiu muito rápido. Só que vem todo aquele problema com a Enel. A gente não pode mexer em árvore que está perto de fios e eles não fizeram as podas. A empresa tem várias responsabilidades e o transtorno maior da cidade foi causado pela Enel e não pelas Secretarias, que imediatamente se organizaram e fizeram suas ações, para resolver problemas que quem tinha que resolver era a Enel. Foram alocados geradores pra poder dar assistência nos hospitais, nas escolas. A prefeitura teve um gasto enorme por conta da ineficiência da Enel. Eles ficam tirando o corpo fora, mas a responsabilidade deles é muito grande. Quando teve uma nova previsão de chuva, o prefeito chamou todo mundo, porque assim ele tem trabalhado com todos os secretários envolvidos, mas própria CEGER (Centro de Gestão da Rede Informática do Governo) já disse que não teria essa chuva do jeito que estava sendo anunciado. Então assim houve uma tranquilidade um pouco maior, mas estava todo mundo preparado, os geradores estavam todos apostos.

GSN: As estimativas para o futuro são de que esses eventos climáticos extremos piorem. Como a prefeitura está se preparando para lidar isso?

LF: A prefeitura já fez muito. As obras de drenagem são fundamentais. Nós temos o problema da energia elétrica, que realmente a gente precisa resolver, precisa mudar essa empresa, que não faz suas funções como o enterramento dos fios, a poda das árvores. A própria prefeitura, se eu não me engano, já fez a poda de 120 mil árvores. Nós temos 450 mil árvores na rua, fora o que tem parques e praças. Tudo que a prefeitura faça, está sendo feito. Foram quase oito bilhões investidos nas obras de drenagem nos últimos quatro anos, como os jardins de chuva e o asfalto permeável. O próprio CEGER fala que é muito difícil aconteceu aqui uma catástrofe, como aconteceu do Rio Grande do Sul, mas assim, a falta de energia ainda é o maior dos problemas. Não dá para uma cidade como São Paulo ficar cinco dias sem luz. É impensável. Nisso você tem pessoas como a minha vó que usava oxigênio ligada na tomada. Se ela ficasse cinco dias sem energia, ela ia morrer. A nossa Secretaria de Saúde também tem toda uma organização para receber essas pessoas nas suas unidades de saúde. Caso isso aconteça, a gente não tem como colocar um gerador em cada casa, mas a gente tem como ter em todas as nossas unidades. Lógico se der um número absurdo, não tem como atender todo mundo e aí orientação é, procure a casa de um familiar. Mas a prefeitura também está à disposição para receber.

GSN: Você falou do número de árvores, existe então o monitoramento das árvores, de como está a saúde delas, de quais precisam de podas e remoção?

LF: A Secretaria do Verde que faz isso, junto com as subprefeituras, eles têm todo um monitoramento. Agora tá fazendo a chipagem dessas árvores, com monitoramento satélite também para ver a copa da árvore, qual é a saúde fitossanitária dessa árvore e tudo mais. Isso está sendo feito sim, eu não consigo te passar detalhes, porque isso é feito pelo verde, pelas subprefeituras, mas está sendo feito.  

GSN: Apesar da tempestade de dias atrás, a gente tem tido pouca chuva em São Paulo. Não está chovendo com seria o esperado estamos vivendo um período de seca e baixa umidade. Como está a preparando para uma possível seca?

LF: A falta de água é uma coisa muito séria. Vai ter que trazer água de outros lugares. E aí é com a Sabesp. Eu já não consigo te passar detalhes, mas é uma coisa que nós também viemos alertando há muito tempo, porque com essas invasões das áreas de manancial isso também tem prejudicado. A gente fez uma vistoria de barco outro dia e a assoreamento é grande. Lugares que tinha, sei lá, 15 metros, agora tá seis. Tem muita macrófita na água, o que significa que a saúde da água também não tá boa.É muita, muita coisa colocada naquela água, até anticoncepcional, drogas, tem muita coisa. Tem cocaína na água. Foi encontrada no estômago de peixes. Então assim, é um risco muito grande que a gente corre. Eu acho que São Paulo tem uma preparação de trazer água de outros lugares, mas a gente precisa cuidar do que é nosso.A questão da OIDA pra gente assim é muito importante pra que não aconteça isso que tá acontecendo. Precisamos melhorar isso, cuidando das nossas áreas verdes, dos resíduos e de tantas coisas para que a gente mude um pouco essa realidade.Mas quem pode te dar mais detalhes é Sabesp, estado, não depende da gente.

GSN: Com essa seca e aumento das faixas de areia, a ocupação dos mananciais piora?  

LF: Piora, piora muito. E o esgoto que vai direto para água. É importante lembrar que ali não é só casa de pessoas vulneráveis. Ali tem casas gigantescas, tem mansões com barco, pier.

GSN: Esse ponto é muito importante porque a gente sempre faz associação com as pessoas muito simples ali e nem sempre são pessoas em vulnerabilidade que estão ali.

LF: É conscientizar as pessoas que aquela área não pode ser ocupada, é área de preservação.

GSN: A Secretaria participou no ano passado da COP 28. Vocês foram lá ver as questões que envolve São Paulo e apresentaram projetos. Para este ano, tem alguma coisa pensada ou para as próximas edições?

LF: Está sendo feito sim. É organizado pela Secretaria de Relações Internacionais e já teve uma reunião, mas vão ter outras. Esse ano, deve ir para a COP a Secretaria de Mudanças Climáticas, Secretaria do Verde, Relações Internacionais. Vamos levar uma carta, que está sendo elaborada a muitas mãos, é prefeitura, sociedade civil. Esse grupo vai continuar para que a gente possa também apresentar para a COP 30, que vai ser aqui no Brasil. Ainda não tenho resultado disso, porque ainda está em discussão. Mas a gente vai levar uma carta bem robusta da nossa cidade.

GSN: E sobre a previsão de São Paulo se tornar um clima deserto. Vocês trabalham com essa possibilidade? Existe alguma ação nessa com relação a isso?

LF: O nosso trabalho é no combate às mudanças climáticas, então as ações de, por exemplo, altas temperaturas, a gente tem as tendas, e, enfim, estamos pensando aí em ações que não sejam tão pontuais, que sejam ações. Porque hoje as ações são meio paliativas. A gente tem que resolver o problema. Ações mais permanentes, que fiquem para o atendimento as pessoas mais vulneráveis. Mas todo esse trabalho é para que não vire um deserto. Mas a gente está caminhando para isso e não depende só do poder público. Acho que é importante dizer isso. A sociedade civil precisa se conscientizar. Não adianta dizer, “Ah, eu não vou viver quando São Paulo tiver um deserto, eu já não vou estar mais aqui”. Sim, mas suas gerações vão. Então assim, não dá para a gente pensar assim. Hoje 61% das emissões de gases do efeito estufa é causada pelo transporte, 31% pela energia estacionária, que é a luz, é o ar-condicionado, e 8% por resíduos. Temos um problema muito sério de resíduos na cidade. Só no Brás, o que jogam de resíduos têxteis. Tem também os resíduos plásticos, enfim, a cidade tem trabalhado firme para construir esses novos contratos do lixo. Então teremos os três Eco Parques e um que vale por dois, então são quatro Eco Parques. Temos praticamente 100% das ruas cobertas por coleta seletiva, mas disso daí, apenas 4% é de fato reciclado, porque não tem a conscientização da sociedade civil, as pessoas não reciclam, as pessoas não separam o lixo. Então assim, depende sim do poder público, mas depende da sociedade civil, da indústria, por exemplo, a lei da hoje, a política reversa ela não é cumprida por quase ninguém. A gente tá fazendo uma revisão agora do nosso Plano de Resíduos Sólidos, para que colocar isso como uma obrigação mesmo, porque o comércio, a indústria não cumpre. Tem que ser uma coisa coletiva, não dá só para o poder público sozinho, não resolve. Por isso que aqui na Secretaria, até como uma forma de conscientização, a gente criou os Embaixadores pelo Clima, que são pessoas da sociedade civil que já fazem algum trabalho. Já fazem plantio, já fazem compostagem, já fazem educação ambiental, algum tipo de trabalho de limpeza. A gente tem o pessoal da limpeza na represa, faz um trabalho incrível na Guarapiranga, os meninos da Billings e tantos outros. Estamos levando para todos os bairros para que eles troquem experiências entre eles e um possa ajudar o outro. Por exemplo, na Vila Mariana a gente tem um trabalho incrível de compostagem. Queremos que esse pessoal ensine Santo Amaro a fazer, a gente ensina Pinheiros, ensina Cidade Tiradentes, e aí todos os bairros podem fazer e ter essa troca de experiência. Esse trabalho é junto com a sociedade civil.

GSN: É muito interessante este trabalho de limpeza da represa.

LF: São pessoas da comunidade mesmo, eles já faziam muito antes da gente existir, tá? Eles fazem esse trabalho há muitos anos. O que nós fizemos foi trazer todos eles para dentro dos Embaixadores, mas eles já faziam. Eles mesmo se juntam a sociedade civil, cada um dá um pouquinho de dinheiro para comprar os espetos da coleta e eles vão lá para beira da represa e fazem a limpeza e tiram toneladas de lixo da beira da represa. É um trabalho lindo, chama Limpeza na Represa.

E agora aqui, a pedido do nosso secretário Renato Nalini, a gente tá fazendo um hub de boas experiências, então pegando todas essas entidades que já fazem alguma coisa, como Alana, formigas de Embaúba, várias que já fazem esse trabalho, e estamos formando um hub. Por exemplo, formigas de Embaúba, eles fazem um trabalho de mini florestas nas escolas com educação ambiental e estamos ajudando, abrindo portas nas escolas tanto do estado quanto do município, do Centro Paula Souza, e aí eles estão fazendo essas mini florestas. Então esse hub é um pouco para primeiro visibilizar esse pessoal e também para essa troca de experiência e união de esforços.

GSN: Existe alguma coisa nesse sentido para moda? As pessoas até reciclam o plástico, o vidro, o metal, mas o tecido elas ainda não têm essa consciência que também precisa ser reciclado, quem precisa ter uma destinação correta. E quando a gente procura lugares, ainda é muito difícil de achar reciclado de tecido.  

LF: Existe. O tecido pode ser transformado em outras coisas. A gente conversou, agora eu não lembro o nome deles, mas eles transformavam o tecido em cadeira de escola. Eles usavam um produto e transformavam em cadeira, em régua, em mesa. Outro exemplo é a Fashion Week, que usa roupas com material reciclado, plástico pet, ou o próprio tecido que é reutilizado. Temos um trabalho de recolhimento e o envio de tecido para algumas entidades, mas ainda é muito pouco. Também queremos terminar com os aterros e enviar esses resíduos para os Eco Parques. Hoje, na prefeitura, a gente tem 60 cooperativas que são cadastradas, 30 em andamento e 30 incubadas é, e aí todo esse material também é enviado para eles.

GSN: Certo, e existe algum trabalho na região do Brás, que ali é um problema na questão do tecido?

LF: No Bom Retiro, eles mesmos acabam encaminhando, mas não sei te dizer com detalhes, porque isso quem cuida é a Secretaria de Limpeza Urbana.

GSN: Existe um projeto para educação da população com relação às mudanças climáticas? Um trabalhado nas escolas em parceria com as universidades. Alguma coisa nesse sentido, de educar profissionais para o futuro? Por exemplo, nos cursos de medicina, uma aula de como que os médicos precisam se preparar para as possíveis doenças que irão aparecer.

LF: É falta mesmo, né? Mas assim, da nossa parte, a gente quer trabalhar. Levamos um Climatom, que são discussões que a nossa equipe mesmo vai com informações e tudo mais sobre mudanças climáticas, para a Anhembi Morumbi e a FMU.  Agora eles vão preparar projetos para que virem políticas públicas. Nosso secretário, que vem também da área de educação, tem um interesse muito grande para que eles possam ajudar a gente, mas é uma coisa pequena. Nas escolas municipais foi criada a cartilha de educação ambiental e lá no ginásio do Ibirapuera, tem um negócio sensorial sobre as mudanças climáticas. Não sei se continua lá, mas levam os alunos de sexto ano, para conhecer esse projeto e sentir as mudanças. Tem um calor infernal, um frio, chuva. É para que eles entendam também. A questão de educação ambiental entrou nas escolas municipais e faz parte do currículo. Tem as hortas nas escolas, tem alimentação orgânica que tá crescendo. E com as universidades, esse trabalho que a gente tá fazendo, mas ainda falta, como você falou de ter uma matéria específica. E muitas doenças hoje são causadas pelas mudanças climáticas e já deveria até entrar no CID como doença causada por mudanças climáticas. Já tinha que ter uma coisa até maior, mas ainda não.

GSN: Falta um planejamento muito grande, da sociedade como um todo, né?

LF: E aí não é a nossa Secretaria. É uma coisa muito maior, mundial, eu diria. As pessoas ainda precisam querer mais que isso realmente aconteça.

GSN: O que que o cidadão comum pode fazer para ajudar nesse combate às mudanças climáticas?

LF: Ah, tem uma série de coisas. Eu acho que a questão dos resíduos é a mais importante para gente, porque é 100% de obrigação do município a questão de resíduos, porque quando você fala de transporte, tem o órgão federal que faz, que tem as suas responsabilidades, o órgão estadual, a energia estacionária também. No caso de resíduos, é 100% a gente. Mas tem um monte de coisas que o próprio cidadão pode fazer, tomar banho mais rápido, separar, reciclar o lixo é usar o transporte coletivo e bicicleta. Consumir alimentos nacionais, orgânicos, livres de agrotóxicos. Não usar o descartável. Levar a sua sacola é separar o lixo. Acho que plantar é fundamental e todo mundo tem um cantinho ali, é mesmo quem mora em apartamento pode ter os vasos, então é o plantio é muito importante. Compostar o seu lixo. Tem agora os com minhoca. A casa do Natalini é um modelo, porque ele faz captação de água de chuva e utiliza para regar o próprio jardim, que é uma mini floresta. Ele planta, ele faz a compostagem e usa o composto no próprio jardim. Ele tem energia fotovoltaica. Quando falta a luz em Santo Amaro, na casa dele tem luz. Aí falaram, brincaram com ele, que é porque ele é ligado a política. Ele falou, “não, é porque eu tenho energia fotovoltaica”. O que cada um pode fazer na sua casa, no seu bairro? Ajudar. Esse pessoal todo que eu falei, né, eles vão voluntariamente plantar, eles ensinam como plantar, como cuidar e são pessoas da sociedade civil. Eu acho que é cada um fazer a sua parte, sabe?

GSN: E você vê o copo meio cheio ou meio vazio?

LF: Infelizmente eu acho que ainda o corpo está meio vazio, por todo esse trabalho que a gente faz, já deveria estar muito mais avançado. Assim os cientistas estão avisando há tanto tempo, os ambientalistas estão avisando e são chamados de “eco chatos” ou “abraçador de árvores”, mas assim está acontecendo, não dá para construir, você vê hoje, é prédio para todo lado. Não dá para ter tudo isso de prédio, a gente precisa preservar. Mas pelo menos a prefeitura tá preservando áreas verdes. E é importante dizer que hoje 53% da cidade tem áreas verdes, que pode ser desde um matinho um campo de futebol até áreas de preservação mesmo. Temos muita área verde, talvez mal distribuída. Se comparar a zona sul com a zona leste, a diferença de temperatura 4° vezes maior, porque na zona leste é árida totalmente. O centro é árido. Já na zona sul a gente tem uma área de vegetação maior. Mas a gente precisa melhorar muito a educação das pessoas. E aí não é nem educação ambiental, é educação mesmo. Tipo, não joga coisa pela janela do carro. Deixa dentro do carro, depois você joga fora, mas tem gente que joga lata, é uma coisa absurda. Joga no mar, joga no Rio. Então a gente precisa ter um pouco de conscientização também.


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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