Grupo coloca crânios ao lado da estátua do Borba Gato, em Santo Amaro, para ressignificar a história

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A ideia é mostrar o passado de violência de monumentos históricos da cidade de São Paulo. O bandeirante Manuel de Borba Gato é considerado um dos principais caçadores e escravizadores de indígenas do século 17


Estátuas lendárias espalhadas pela cidade de São Paulo ganharam uma decoração que pode remeter a celebração do Halloween, no próximo sábado (31), mas não foi isso. Para conscientizar a população sobre o passado de violência de personalidades homenageadas com estátuas, crânios foram colocados ao redor delas.

Na Zona Sul, quem ganhou este adereço foi a Estátua do Borba Gato, criada pelo escultor Júlio Guerra, localizado entre as avenidas Santo Amaro e Adolfo Pinheiro. O bandeirante Manuel de Borba Gato é considerado um dos principais caçadores e escravizadores de indígenas durante as expedições que realizava em busca de minérios no século 17.

A intervenção com os crânios foi realizada pelo Grupo de Ação, composto por pessoas que moram em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Um integrante do grupo pegou os crânios do lixo de uma escola de samba e repassou para a videoartista Junae Andreazza, que colocou os adereços em frente à uma estátua do Comando Militar do Exército em São Paulo, no bairro do Paraíso.

“Quando o grupo viu a foto, ficou encantado. Aí fizemos uma ação voltada para as estátuas e monumentos ligados à morte no Brasil. Pegamos desde os bandeirantes, como Borba Gato e Anhanguera, que têm inúmeras referências de morte, e fomos atrás de jesuítas, que mataram muitos índios quando ensinavam a catequese. Também pegamos outros militares que tinham esse histórico de morte e exploração contra essas populações”, afirma Junae.

Este protesto também foi inspirado nas manifestações contra o racismo que aconteceram no Reino Unido em junho deste ano, quando a estátua do traficante de escravos Edward Colston foi derrubada. Na época, o mundo inteiro presenciou protestos contra a morte de George Floyd, que foi sufocado por um policial branco nos Estados Unidos, momento em que surgiu o movimento Vidas Negras Importam.

Em decorrência dos protestos, a Estátua do Borba Gato também foi ameaçada de ser derrubada. “Eles queriam ‘cancelar’ a estátua, tirar do lugar, jogar no rio. A gente não quer a deterioração, queremos a ressignificação. Fizemos uma foto e queríamos dar um outro significado. Ninguém fala que o Borba Gato foi um dos maiores assassinos que a gente já conheceu do nosso povo. A caveira até por ter essa coisa alegórica que veio do carnaval tenta ressignificar a história”, explica.

Além do Borba Gato, crânios também foram colocados no Monumento das Bandeiras e na Estátua de Pedro Álvares Cabral, no Parque Ibirapuera; na Estátua de Bartolomeu Bueno da Silva, conhecido como segundo Anhanguera, na Avenida Paulista; e em outros locais.

Monumento das Bandeiras, no Ibirapuera

SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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