Falta de adesão da população às medidas de prevenção dificulta o combate à dengue na capital

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Durante o período da pandemia de Covid-19, tornou-se a preocupação central seguir as medidas de segurança para evitar o avanço do coronavírus, mas, mesmo dentro de casa, outra ameaça já bastante conhecida pela população brasileira continuou por perto: a dengue.

Com o foco mais voltado à Covid-19, muitas pessoas podem ter, de fato, deixado de lado os cuidados para prevenir o aparecimento do Aedes aegypti, mosquito responsável pela transmissão da dengue, o que colaborou para um aumento de casos neste ano.

Eduardo de Masi, assessor técnico do Gabinete da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) para assuntos de vigilância em saúde ambiental, explica que alguns descuidos ainda são muito recorrentes e dificultam o trabalho de combate à dengue.

Descuidos da população no combate à dengue

Entre os erros mais cometidos pelos munícipes, o principal é esquecer recipientes nos quintais, onde ficam expostos às chuvas e ao acúmulo de água, podendo se tornar criadouros para a reprodução do mosquito.

“Em pesquisas feitas na cidade de São Paulo, a Covisa identificou que há, em média, mais de dois recipientes passíveis de se tornarem criadouros por imóvel. Em quase 30% dos imóveis pesquisados, há ao menos um recipiente”, afirma Eduardo.

Além disso, também não se deve colocar areia nos pratos de planta apenas uma única vez, pois isso não impedirá que o recipiente se torne um criadouro. Com o tempo, a areia compacta é derrubada e formam-se empoçamentos no prato, que permitem a proliferação do mosquito. O recomendado é, na verdade, eliminar todos os pratos de plantas dos vasos colocados em áreas externas das residências e fazer uma busca criteriosa de possíveis criadouros ao menos uma vez na semana, para eliminá-los.

Manter depósitos de armazenamento de água destampados ou mal tampados e esquecer-se de inspecionar os chamados criadouros fixos – aqueles em que a água se acumula nas deficiências estruturais ou nas estruturas arquitetônicas dos imóveis, tais como depressões em lajes, calhas sem caída adequada ou entupida, cacos de vidro nos muros, esculturas, depressões ou desníveis em telhados – também são descuidos que devem ser evitados.

Ações de prevenção e controle

Na cidade de São Paulo há 28 Unidades de Vigilância em Saúde (UVIS), com equipes de vigilância epidemiológica e controle de vetores, que atuam em todo o território municipal para identificar casos de arboviroses. A atuação das equipes é dividida em dois momentos: prevenção, durante o período de julho a dezembro, e controle, que ocorre de janeiro a junho, o chamado período epidêmico, quando as condições climáticas favorecem a proliferação do Aedes aegypti.

“Há ainda o efeito causado pela mobilidade urbana, com um aumento de casos confirmados após feriados, por conta da saída das pessoas da capital e retorno de algum contingente que foi infectado nas localidades onde foram passear. O mesmo efeito se deve devido à vinda de pessoas infectadas de outras localidades para a cidade”, comenta Eduardo, lembrando que o programa usa apenas larvicidas biológicos, com rotação de princípios ativos dos inseticidas para prevenir a evolução de resistência nos mosquitos.

Para cada um desses momentos, há atividades prioritárias dentro do Programa Municipal das Arboviroses, como atividade casa-a-Casa, visita e controle em pontos estratégicos e imóveis especiais, pesquisas entomológicas, bloqueios de controle de criadouros e de nebulização, atendimento a solicitações, além de medidas de orientação e educação.

“A maior dificuldade tem sido o excesso de imóveis fechados, que impossibilitam a visita das equipes para a eliminação de criadouros e orientação aos moradores. Em média, 30% dos imóveis são encontrados fechados durante as ações de controle vetorial. Há regiões em que a proporção chega aos 60%”, ressalta o assessor técnico. Mesmo quando as visitas ocorrem, a falta de adesão às medidas orientadas pela equipe é outro obstáculo para um resultado mais eficiente no combate à dengue no município.

Uma das explicações para o surto de dengue em vários estados do país, além de focos de infestação e transmissão de outras arboviroses (doenças causadas por vírus transmitidos por mosquitos como Aedes aegypti e Aedes albopictus) está no fenômeno do aquecimento global, que aumenta a área de ocorrência desses vetores. “No Brasil, por exemplo, este ano houve aumento expressivo de casos na região sul”, diz Eduardo.


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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