Donos de clínicas de reabilitação da Zona Sul são investigados por maus-tratos

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Dependentes químicos que pagavam R$ 1.000 para se tratarem nas clínicas de reabilitação eram amarrados e espancados pelos proprietários das unidades de saúde, localizadas em Parelheiros. Ex-funcionários relatam que as famílias eram proibidas de fazer visitas e os pacientes só tinham uma refeição por dia


Um casal, donos de clínicas de reabilitação localizadas na região de Parelheiros, extremo Sul de São Paulo, estão sendo investigados por agressão e maus-tratos contra os pacientes internados nessas unidades de saúde.

A investigação começou após uma denúncia feita ao Ministério Público de São Paulo, no início de mês de junho. Vídeos mostram o dono das clínicas, um homem de 61 anos, dando socos no rosto e no peito de um rapaz que está amarrado em uma cama. Outro homem também agride o rapaz com socos na costela.

Segundo a Polícia, o rapaz fazia tratamento contra dependência química. “Não tinha médico, nem enfermeiro. [O dono da clínica] agredia muito os pacientes, inclusive com pauladas, ele era muito truculento. Os funcionários também agrediam pacientes com pedaços de pau”, relatou um ex-funcionário em depoimento à 1ª Delegacia Seccional do centro e à Delegacia da Pessoa com Deficiência.

No depoimento, o ex-funcionário afirma que quando os parentes dos pacientes queriam fazer uma visita, precisavam avisar com muita antecedência e se chegassem de surpresa, não eram autorizados a entrar. “Eles [os donos] tinham que disfarçar as coisas no local, pois não tinha como os familiares chegarem e ver tudo desarrumado e os pacientes amarrados”, disse.

Outra ex-funcionária revelou que cada paciente pagava cerca de R$ 1.000 pelo tratamento e que, muitas vezes, faziam apenas uma refeição por dia. “Até fome eles passavam. Faltava produtos de higiene, faltava tudo”, disse.

A Polícia Civil cumpriu três mandatos de busca e apreensão no dia 30 de junho: dois em clínicas de Parelheiros e um na casa do proprietário das clínicas, em Santo Amaro. Não havia ninguém nos locais, nem mesmo pacientes.

“É difícil de acreditar que isso exista nos dias de hoje. Observamos que as clínicas eram preparadas para prática de maus-tratos e tinham condições sub-humanas”, explicou o chefe da investigação da 1ª Seccional, Luiz Carlos Zaparoli. De acordo com o delegado, os locais investigados cheiravam a urina e tinham amarras em todas as camas.

A Polícia apreendeu computadores e documentos, como os prontuários dos pacientes. Por ora, o caso é investigado como maus-tratos e lesão corporal.

O Artigo 136 da Lei nº 2.848, decretada no Código Penal, prevê que “expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina” acarreta em prisão de dois meses a um ano (no caso de lesão corporal de natureza grave) ou reclusão de um a quatro anos (se a vítima morrer).


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