O agricultor consciente sabe que ele depende do clima. E, portanto, tem de estar engajado nas ações que se propõem a mitigar ou a adaptar os humanos diante da emergência de fenômenos extremos cada vez mais intensos e mais frequentes.
A produção do agronegócio foi a verdadeira “salvação da lavoura” no Brasil dos últimos anos de estagnação. A potente indústria não se atualizou. Permaneceu praticamente inerte, ressalvadas as raras e honrosíssimas exceções. Enquanto isso, o Brasil se tornou o líder na exportação de dez produtos: o primeiro, campeoníssimo, é o complexo soja – soja, farelo e óleo. O segundo, a própria soja. Depois carnes, açúcar, milho, farelo de soja, celulose, café, madeira, algodão, tabaco e suco de laranja.
Importante observar que, em relação ao milho, o Brasil toma o lugar dos Estados Unidos e, no tocante ao farelo, ocupa a posição deixada pela Argentina. Foram cento e sessenta e sete bilhões de exportações em 2023, cinco por cento a mais do que em 2022.
O cenário para exportação tem de continuar uma diplomacia bem assertiva com a China, grande compradora de nossos produtos. Enquanto isso, é também urgente não perder de vista que temos trinta e três milhões de semelhantes a passar fome. Não é possível que o “celeiro do mundo” conviva com tal situação inadmissível.
Por outro lado, os produtores devem se empenhar para fazer com que as áreas degradadas sejam recuperadas. No momento em que o Brasil mostrar que está a regenerar os milhões de hectares abandonados, transmitirá ao restante do planeta a sua seriedade no enfrentamento das questões climáticas. E não é apenas uma questão de “Relações Públicas” com o mercado internacional. É a possibilidade de ganhar mais dinheiro ainda, vendendo os créditos de carbono resultantes do reflorestamento.
Sem isso, as mudanças climáticas poderão afetar a nossa produtividade e, além da redução da cota que nos cabe nas exportações mundiais, poderemos ainda merecer o repúdio e a vedação à entrada, na Comunidade Europeia, de produtos que provêm de áreas desmatadas ou sem rastreamento na sustentabilidade. Este último ponto, fundamental para que a carne brasileira in natura possa continuar a merecer a preferência mundial. Tudo, portanto, depende do clima.
*José Renato Nalini é Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo.
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