Intrigas entre maçonaria e Igreja Católica, início de oligarquias fazendeiras e negação por um sucesso estrangeiro ao trono são elementos que deram início ao Regime Presidencialista no Brasil, professores do Mackenzie Wesley Espinosa e Sérgio Ribeiro explicam a transição entre Monarquia e República
Nesta quarta-feira (15), comemora-se os 134 anos da Proclamação da República no Brasil, uma data que simboliza o fim do Reinado da Família-Real Portuguesa no Brasil e o início do Regime Presidencialista. Você conhece os bastidores do que ocasionou na mudança política?
“A Proclamação da República, que oficialmente vai ocorrer no dia 15 de novembro de 1889 não pode ser vista como um caso isolado. Na história optamos por trabalhar por processos”, apresentou o Professor de História e Sociologia do Centro de Educação, Filosofia e Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Wesley Espinosa Santana.
Para entender é preciso olhar o contexto durante todo o Século XIX no Brasil: “Em 1817, na Revolução Pernambucana, foi um Movimento Libertário, onde uma das questões era a mudança do Regime Político, ali já haviam os rumores da Independência do Brasil, que ocorrera posteriormente, em 1822. Mas a República já começava a ser discutida”, explica Wesley.
O Governo Brasileiro também começara a sofrer pressões internacionais contra o considerado ‘regime autoritarista’ de Dom Pedro I. “Em 1824, a Confederação do Equador, em Pernambuco, teve Frei Caneca como uma das lideranças em busca da República. Tivemos também influência de Governos Europeus, sobretudo da Grã-Bretanha, com empresários e banqueiros europeus pressionando Dom Pedro I para a abolição da escravatura”, completa Wesley citando a Lei Eusébio de Queiroz em 1850; Lei do Ventre Livre em 1871 até a Lei Áurea, em 1888, visto que o Brasil era detentor de grandes fazendeiros com muitos escravos.
Já durante o II Reinado de Dom Pedro II, em 1870, o Brasil enfrentou a Guerra da Tríplice Aliança, popularmente conhecido como a Guerra do Paraguai, ao qual Brasil, Argentina e Uruguai, apoiado por França e Inglaterra, dizimaram 3/4 da população Paraguaia, estimando o óbito de 95% dos homens e 50% das mulheres. “Isso trouxe problemas financeiros ao Brasil, foram custos muito altos, e isso traz um movimento abolicionista, trazendo críticas da imprensa à Dom Pedro II e seu governo perdulário (gastador em excesso)”, completa.
Um outro prelúdio que teve um impacto significativo na opinião popular acerca do fim da monarquia portuguesa no Brasil se deu pelo fato de Dom Pedro II ser muito criticado socialmente por não ter filhos homens, sendo a herdeira a Princesa Imperial do Brasil Isabel, que viveu um casamento com o estrangeiro e Príncipe francês Conde d’Eu. “Por só ter filhas, o herdeiro do trono seria Conde d’Eu e essa ideia de o Brasil ser governado por um estrangeiro não era bem visto pelos brasileiros.”
Além disso, o militarismo brasileiro e a Igreja Católica estavam em processos de mudanças de mentalidades que influenciaram para sempre os rumos da história política do Brasil. Sérgio Ribeiro Santos, professor e coordenador nos cursos de História e Teologia no CEFT, Centro de Educação, Filosofia e Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que a Igreja chegou na América com o Governo Português, com quase 500 anos de histórias em terras brasileiras, onde durante a colonização havia uma parceria entre Estado e Igreja, sendo a religião oficial. “A Igreja tinha essa garantia do Estado, mas também o Estado tinha uma influência grande sobre a Igreja Nacional, nomeação de bispos, instalação de ordens precisavam passar por um crivo, inclusive pelo Imperador”, diz Sérgio.
Mas durante o Século XIX a relação entre a Igreja e a Corte Portuguesa foram ficando desgastadas. “Isso se deve a questão religiosa de 1870, em que dois bispos são presos por não aceitarem maçons em suas dioceses, querendo ter uma Igreja no Brasil mais alinhado com o Vaticano. O Imperador Dom Pedro II era maçon e uma ala da igreja não queria se submeter a Corte. Essa tensão foi se acirrando e a Igreja começa a deixar de apoiar a Monarquia Brasileira”, completou Sérgio.
Já no militarismo brasileiro, Marechal Deodoro da Fonseca foi uma figura muito ilustre da instauração da República. O então Ministro da Guerra de Dom Pedro II começa a ouvir conversas ‘republicanas’, junto com nomes como Benjamin Constant e Floriano Peixoto (nome de um símbolo cartão-postal santamarense – Praça Floriano Peixoto).
“Então, às vésperas do dia 15 de novembro de 1889, o próprio Marechal Deodoro da Fonseca se coloca contra Dom Pedro II. Eu chamo de Golpe de Estado, porque os militares foram pra frente do Palácio no Rio de Janeiro e forçaram Dom Pedro II a se renunciar”, disse Wesley explicando porque a data de 15 de novembro simboliza o início da República no Brasil.
Curiosamente, Marechal Deodoro foi o primeiro Presidente da República e Floriano Peixoto o primeiro Vice-Presidente. “Passamos a ter essa República Oligárquica, representada principalmente pelos grandes cafeeiros de São Paulo, impulsionada pela relação desgastada com a Igreja Católica e com a negação de um Imperador francês. Sendo considerado um marco também pelo fim dos títulos de nobreza no Brasil nesta data”, finalizou Wesley.
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