ARTIGO | Invisibilidade na economia do cuidado começa cedo

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Meninas de 14 a 19 anos, em sua maioria negras e moradoras da região Norte do país, estão cada vez mais cedo sendo inseridas na dupla jornada de trabalho: além de terem que trabalhar fora de casa, são responsáveis pelos trabalhos domésticos, que não são remunerados, não são valorizados e vistos como obrigação para as mulheres, já que elas cresceram vendo suas mães, avós e figuras femininas realizando a mesma jornada.

Os dados levantados pela pesquisa Por Ser Menina, lançada pela Plan International em 2021 e executada pela Tewá 225, evidenciam a importância do tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano, que traz para o debate público o problema da invisibilidade da economia do cuidado.

O estudo teve como principal foco a captura da percepção das meninas brasileiras entre 14 e 19 anos, em 10 cidades das 5 regiões do Brasil, com um total de 2.589 meninas respondentes. Deste total, 18,6% das meninas na faixa etária entre 14 e 19 estão trabalhando, sendo que Amazonas e Maranhão são os estados que apresentaram maiores percentuais de meninas que trabalham nas idades entre 14 e 15 anos, com 23,8% e 22,4% respectivamente.

Dentro de casa, elas ainda realizam o dobro de trabalhos domésticos que os meninos (67,2% das meninas contra 31,9% dos meninos), o que valida a tese de que as meninas são precocemente responsabilizadas pelo cuidado com o lar e com as pessoas.

A carga de trabalho doméstico piorou durante a pandemia: 54,6% das meninas disseram que as tarefas aumentaram. Isso se deu tanto pela maior dedicação ao ambiente doméstico quanto pela perda de parentes que assumiam essas funções junto a elas.

É possível ver que repetimos padrões de forma circular, uma vez que as mães que hoje cobram responsabilidades precoces das meninas, que julgam suas escolhas e batalham por seu sustento, ou ainda, que criam meninos com as mesmas estruturas machistas dos homens que as violentaram/oprimiram, foram ontem meninas que passaram pelas mesmas pressões e violências.

Para quebrar esse ciclo, é preciso pensar e agir em ações para promover a equidade de gênero dentro e fora de casa, permitindo que estas adolescentes, jovens e mulheres possam construir suas vidas com mais dignidade e menos sobrecarga.

Luciana Sonck é mestra em planejamento territorial, especialista em governança e sócia-fundadora e CEO da Tewá 225


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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