Bairros de extrema pobreza da Zona Sul registram mais mortes por Covid-19 do que bairros nobres

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Segundo a Rede Nossa São Paulo, a extrema pobreza, a renda familiar e a taxa de emprego formal são alguns dos indicadores que levam as pessoas da periferia a morrerem por Covid-19. Dados foram comparados com Mapa da Desigualdade 2019 e informações sobre o coronavírus divulgadas pela Prefeitura


Bairros pobres da cidade de São Paulo tem 2,7 vezes mais óbitos por Covid-19 do que bairros nobres, conforme foi revelado pela Rede Nossa São Paulo, que comparou dados do Mapa da Desigualdade 2019 da capital paulista com dados sobre a Covid-19 divulgados pela Prefeitura de São Paulo, até o dia 2 de julho.

A entidade descobriu que a letalidade da Covid-19 é inversamente proporcional à oferta de trabalho formal em cada região e que a renda e a extrema pobreza também são indicadores para o agravamento da doença nas periferias.

A partir deste cruzamento de informações, é possível saber que quanto menor a renda das famílias, menores as chances de acesso para tratamento da doença, nos casos graves. Nas áreas mais pobres, a superlotação do sistema de saúde acontece pela redução na oferta de leitos.

No Jardim São Luiz, por exemplo, a renda familiar mensal média é de R$ 983 e o bairro já tem 256 mortes por Covid-19. No bairro nobre do Alto de Pinheiros, que registra 48 mortes, a renda familiar mensal média é de R$ 9.344: 16% maior do que no Jardim São Luiz.

A Rede Nossa São Paulo elencou quatro bairros da Zona Sul em que as famílias vivem em extrema pobreza:

  • Grajaú: 34.430 famílias -> 302 óbitos por Covid-19;
  • Jardim Ângela: 26.857 famílias -> 282 óbitos por Covid-19;
  • Cidade Ademar: 21.577 famílias -> 262 óbitos por Covid-19;
  • Jardim São Luís: 20.771 famílias -> 256 óbitos por Covid-19.

Apenas nesses quatro distritos estão concentradas 202,8 vezes mais famílias que vivem com até um quarto de salário mínimo. Em comparação com outro bairro da Zona Sul é possível ver a desigualdade social que assola a cidade de São Paulo: Moema tem apenas 125 famílias em situação de extrema pobreza e 76 óbitos por Covid-19.

“A Covid-19 é mais letal aos extremamente pobres e mais vulneráveis, já que os distritos que concentram o maior número de famílias em condição de extrema pobreza, com até um quarto de salário mínimo, também concentram os maiores números de óbitos pela doença”, explica a Rede Nossa São Paulo.

A taxa de emprego formal também é um dos índices que eleva as mortes por Covid-19 nas periferias: enquanto a Cidade Tiradentes, no extremo da Zona Leste, tem apenas 24 postos de trabalho para cada 1.000 habitantes e 223 mortes, a Barra Funda tem 5.920 postos de trabalho e 21 mortes por Covid-19.

1ª EDIÇÃO MAPA DA DESIGUALDADE x COVID-19

Uma outra edição extraordinária da Mapa da Desigualdade, divulgada em junho, revelou ainda que o CEP pode ser um fator de risco na pandemia: os distritos paulistanos que não têm favelas apresentam baixo número de óbitos, já os distritos com uma grande quantidade de moradias precárias registraram mais mortes por Covid-19.

“Os dois distritos que têm mais falecimentos por Covid-19 têm o percentual de domicílios em favelas 3 vezes maior que a média da cidade. Brasilândia e Sacomã têm 30% e 28% de seus domicílios em favelas. Juntos, concentram mais de 500 mortes”, explica a Rede Nossa São Paulo.

De acordo com o Mapa da Desigualdade 2019, bairros da Zona Sul também estão entre os que possuem mais favelas e, por consequência tem alta taxa de morte por Covid-19 (até o dia 18 de junho):

  • Capão Redondo: 27,66% de favelas X 237 mortes
  • Campo Limpo: 26,63% de favelas X 144 mortes
  • Jardim Ângela: 25,83% de favelas X 240 mortes
  • Jardim São Luís: 24,09% de favelas X 235 mortes
  • Pedreira: 23,40% de favelas X 92 mortes

Além disso, os dados revelaram que os dois bairros da Zona Sul onde a maior parte da população é negra são os mesmos bairros que registraram o maior número de óbitos por coronavírus: enquanto o Grajaú tem entre seus habitantes 57% negros e 267 mortes por coronavírus e o Jardim Ângela tem 60% de moradores negros e 240 mortes da doença, outros dois bairros têm números muito diferentes que evidenciam a desigualdade na cidade de SP: Moema tem apenas 6% de habitantes negros e 66 mortes e Alto de Pinheiros tem 8% de moradores negros com 44 mortes por Covid-19.


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