Especialista do Hospital CEMA faz alerta: as substâncias do tabaco podem permanecer no ambiente por anos e causar déficits cognitivos e maior risco de câncer nos pequenos
Por CEMA
As crianças estão o tempo todo no chão, colocam tudo na boca e têm um organismo em desenvolvimento, o que as torna alvos fáceis de doenças infecciosas. Todas essas afirmações são velhas conhecidas, principalmente dos pais, sempre preocupados com a saúde dos filhos. No entanto, poucos são os que percebem que as crianças estão expostas o tempo todo a um elemento ainda mais negativo: a fumaça do cigarro. E aqui não se trata do fumo passivo, que é obviamente nocivo, mas às substâncias que ficam impregnadas no ambiente, o chamado fumo de terceira mão. “Na medida em que muitos países proibiram fumar em lugares públicos, a casa tornou-se a principal fonte desse tipo de exposição ao cigarro”, explica o otorrinolaringologista do Hospital CEMA, Leandros Sotiropoulos.
Os danos causados pelas toxinas impregnadas no ambiente na saúde das crianças começaram a ser estudados há poucos anos. E mesmo o conceito de fumo de terceira mão é recente. Entre os mais importantes está a pesquisa do MassGeneral Hospital for Children (MGHfC), publicado na revista Pediatrics, que mostrou como a contaminação da fumaça do tabaco permanece mesmo depois de o cigarro ter sido apagado. O estudo foi o primeiro a examinar como o tabagismo impacta a saúde das crianças, tendo em vista que, quando a pessoa fuma, as partículas tóxicas da fumaça do tabaco permanecem no corpo e no ambiente por muito tempo.
Por isso, mesmo que os pais tenham deixado de fumar, os riscos de exposição à fumaça do cigarro permanecem. “As crianças são especialmente suscetíveis ao fumo de terceira mão, pois elas podem aspirar, engatinhar, brincar ou tocar em superfícies contaminadas e depois colocar a mão na boca”, detalha o médico. Segundo o estudo, níveis baixos de exposição foram associados a déficits de cognição em crianças e alto grau de exposição foram relacionados a menores índices de leitura. “Essas descobertas reforçam a possibilidade de que mesmo o contato extremamente baixo com esses componentes podem ser neurotóxicos, o que justifica as restrições de todo tipo de fumo em ambientes internos habitados por crianças”, comenta Sotiropoulos.
Outra pesquisa coordenada pelos cientistas da Universidade de York, no Reino Unido, comprovou a presença de agentes cancerígenos relacionados ao tabaco na poeira doméstica e até mesmo em ambientes onde não havia fumantes. O estudo aponta ainda que crianças de 1 a 6 anos estão expostas a uma quantidade maior do que a recomendada pela Agência de Proteção Ambiental (EPA), dos EUA, sendo que o risco máximo identificado na residência equivalia a um caso de câncer a mais para cada mil pessoas expostas.
De acordo com o National Toxicology Program, a fumaça do cigarro conta com cerca de 250 gases, produtos químicos e metais tóxicos. Onze deles são classificados como o grupo mais perigosos de cancerígenos. “Por ser tão perigoso para a saúde de todos, especialmente das crianças, a principal forma de prevenção é parar de fumar para anular a fonte primária, ou seja, a fumaça. A limpeza do local não é tão eficaz, mas também pode ajudar. Esse é mais um motivo para incluir na lista de resoluções o item ‘parar de fumar’ o quanto antes”, recomenda o médico. E nada de esperar o fim do ano, tem medidas que não podem esperar. A saúde das crianças agradece.
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