O legado de Heleninha: conforto e esperança para crianças em tratamento de câncer

0
23
Um dos veículos da frota do Instituto com a boneca Heleninha

Instituição tem como objetivo tornar o caminho até o hospital de tratamento mais leve e confortável 

A perda de um filho é sem dúvida a pior dor do mundo. Mais do que a saudade daquele que se foi, é a cronologia natural da vida se invertendo e a sensação de não ter mais como seguir em frente que se torna uma companheira constante. Quando esse filho é apenas uma criança, a perda pode gerar impactos profundos e transformações para toda a vida. 

Na década de 90, quando era quase impossível ouvir falar de crianças com câncer, Tatiana Piccardi escutou de um pediatra o pior prognóstico possível. Sua filha, Helena Piccardi de Andrade Silva, de apenas cinco anos, tinha um tipo de tumor raro no tronco cerebral e não havia cura. Apesar de ter realizado o tratamento que estava disponível na época, Helena viveu poucos meses e deixou em seus pais, Tatiana e Luiz Maurício de Andrade da Silva, a sensação de que eles precisavam fazer algo para lidar com o luto e honrar a memória da filha.   

“A Helena veio com essa missão de nos trazer a oportunidade de ajudar outras famílias. Então começamos a pensar o que poderíamos fazer, lembrar de coisas que foram difíceis e fizeram falta para a gente na época da doença. O que poderíamos oferecer, que fosse realmente útil e que estivesse dentro das nossas possibilidades. Pensamos na fase do tratamento, quando a Helena ficou muito debilitada e ir de carro para o hospital era fundamental. Eu fazia o trajeto no banco de trás com ela e o pai dela ia dirigindo, íamos brincando, cuidando dela e oferecendo todo o conforto necessário. E isso era uma coisa que podíamos fazer por outras crianças”, conta Tatiana. 

Então, dois anos após o falecimento da Helena, os pais fundaram a AHPAS (Associação Helena Piccardi de Andrade Silva), que veio a ser o Instituto Heleninha, e em 2000 passaram a oferecer transporte gratuito e confortável para crianças e adolescentes em tratamento oncológico.

Por lei, todo paciente de câncer tem direito a gratuidade no transporte público, mas o objetivo do Instituto Heleninha é proporcionar mais conforto e evitar que o que o tratamento seja abandonado, principalmente no caso de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, que moram longe do hospital e tenham muitas dificuldades com a locomoção.   

“Passamos a oferecer transporte porta a porta, que além da qualidade de vida e conforto, preserva o paciente de doenças oportunistas, e vai poupar a pessoa em tratamento de olhares curiosos. Nesses carros conseguimos prover entretenimento, brinquedos, leituras e lanchinhos, tanto para a criança quanto para o acompanhante”, explica Tatiana. 

No começo eram apenas os fundadores realizando essa ação solidária com a ajuda de alguns conhecidos, que ficaram sabendo da causa, e o uso de dois carros próprios. Com o tempo, o projeto foi crescendo e mais gente foi chegando e em 2002, a instituição conseguiu comprar a primeira Kombi. Também foram contratados motoristas profissionais para efetuar o transporte dos assistidos pela instituição. 

“Hoje, atendemos diariamente cerca de 30 famílias. Por mês, a gente realiza mais de 300 trajetos para consultas, exames e tratamentos. De quilometragem, batemos os 17.000 km por mês muito fácil”, conta o gerente da organização, Luan Carvalho.  

Durante os anos de trabalho com a causa, fundadores e voluntários perceberam que era preciso ir além do transporte e proporcionar atividades de lazer como passeios a parques, museus, atividades educativas e até mesmo um grupo de apoio para pais enlutados e de estudos. Então, em 2003, deram início ao Núcleo de Apoio a Pais Enlutados Marcela Costa Batista, e em 2013, ao Grupo de Estudos Saudar, que pesquisa saberes que cooperem para a realização da missão do instituto.

Entre muitos quilômetros rodados, apoio, acolhimento e muita divulgação da causa, já se vão 25 anos de história levando conforto para crianças e adolescentes em tratamento oncológico e suas famílias. Durante esse tempo, o Instituto Heleninha atendeu mais de mil famílias, o que lhe rendeu prêmios e reconhecimento como a Declaração de Utilidade Pública Estadual e o Destaque Social: Prêmio Excelência Mulher. 

O encaminhamento para o instituto acontece em uma parceria entre a instituição e os principais hospitais de tratamento de câncer pediátrico na cidade. Com a ajuda de assistentes sociais, e de uma triagem própria, uma análise socioeconômica é feita e dada preferência para aquele que mais necessita deste cuidado. 

O Heleninha se mantém exclusivamente com doações feitas por pix na chave CNPJ: 03.873.905/0001-64, com a ajuda dos apoiadores mensais que doam frequentemente e com o que arrecadado no Bazar Beneficente na Rua Joaquim Nabuco, 119, Brooklin, São Paulo / SP, CEP 04621-001. Também realiza eventos e ações pontuais para angariar fundos e manter as atividades da organização. 

“Nossa missão é fazer com que essa fase seja a mais leve e organizada possível. Fortalecer a família com boas energias, empatia, amizade, cultura, lazer e até cestas básicas, se precisar. Quanto mais você está alimentado física e espiritualmente, mais você reage positivamente ao que vem, porque é

 um tratamento agressivo. Então, o próprio fato da criança chegar no hospital sem ter passado pelo sofrimento do transporte público, ela já está mais receptiva ao tratamento. Alimentar essa positividade, um mínimo de alegria, é a base para aquela criança se sentir amparada também”, finaliza Tatiana. 


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.