O dia em que o tempo sumiu

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Crédito: Freepik

O tempo passa mais devagar no interior. Seria muito bom se fosse verdade… ou não?

Era julho, e na cidadezinha onde morava Juliana, algo estava acontecendo. As cigarras cantavam em horários imprevistos, os idosos não achavam uma sombra onde repousar e o Sol se punha mais rápido, escondendo-se o quanto antes.

Aquele mês estava sufocante. Seu Arlindo, na rádio, anunciou: “Cientistas dizem que este é o terceiro julho mais quente de toda nossa história! ”

Dona Carmem, que regava suas roseiras todas as manhãs, viu as flores murcharem antes do meio-dia. “O sol está zangado”, disse, abanando-se com um jornal.

Não era só o calor. O velho e imperturbável relógio da praça, referência centenária para os habitantes, começou a adiantar os ponteiros. Era pouco para os olhos, mas muito para os corações inquietos.

Alguns se aventuravam em explicações, ancoradas no medo e nas crenças.

O Prof. Elias tentou explicar a seus alunos:

-Segundo os cientistas, o calor está sendo causado por uma aceleração da rotação da Terra.

-Como assim prof.? Nós vamos bater?

-Não! É como se o planeta estivesse girando mais rápido e tentando escapar de si mesmo! Aliviou ele, após ver a cara de espanto dos alunos.

As manhãs ficaram breves, as tardes apressadas, e à noite, quando o céu parecia mais próximo e o vento mais quente, era difícil dormir.

Mas não era só na cidadezinha de Juliana que o tempo “estava sumindo”. Moradores das redondezas começaram a relatar visões. Gente acordando antes de dormir. Crianças dizendo que o tempo “pulava”. Um homem jurou que viu o sol nascer duas vezes no mesmo dia!

As árvores da praça central começaram a morrer em silêncio. E então vieram as chuvas. Não como alívio, mas como castigo. Torrentes que arrastavam casas, carros, postes, memórias. Gente.

No último dia de julho, Dona Carmem olhou o céu e murmurou:

-Isso não é nada normal… Regou suas últimas rosas como quem planta esperança num mundo que gira depressa demais.

E todos, naquela noite, foram dormir mais cedo, mas porque o tempo parecia ter-se perdido. O calor, a chuva, o giro apressado do planeta, tudo conspirava para lembrar que o mundo estava mudando. E que, talvez, o tempo não esperasse mais por ninguém.

Sandra VR Lugli é escritora e autora do livro Uma tênue linha…entre Ilusão e Realidade

A notícia: Julho de 2025 foi marcado por extremos climáticos e um fenômeno astronômico raro: aceleração momentânea da rotação da Terra, provocando alguns dos dias mais curtos já registrados.

Na editoria Realidade em Prosa, você confere contos ficcionais inspirados em notícias reais.


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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