Escolhas individuais e cobrança sobre governos e empresas são fundamentais para enfrentar a crise
Na última sexta-feira (21), enquanto esta matéria era escrita, lideranças mundiais, representantes de governos, diplomatas e cientistas debatiam as soluções e planos de ação que foram o resultado da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Belém do Pará. O evento foi marcado por conversas sobre transição energética e meios para acelerar o fim do uso de combustíveis fósseis como fonte de energia.
Diante de um tema tão sério e grandioso, a sensação que fica é que a COP e o assunto das mudanças climáticas é algo para depois, uma conversa restrita a governos, grandes empresas e especialistas climáticos. Uma temática que nem deveria estar recebendo tanta atenção assim. Segundo pesquisa recente do Instituto Real Time Big Data, apenas 4% dos entrevistados consideram a pauta ambiental a principal preocupação que o governo federal deveria ter no momento.
Porém, a grande verdade é que o planeta já atingiu o primeiro ponto crítico climático catastrófico e irreversível, com a morte generalizada dos recifes de corais. É o que aponta relatório Global Tipping Points 2025, produzido por 160 cientistas de todo o mundo e publicado em outubro deste ano.
Os números acima não são para assustar ninguém, até porque os especialistas climáticos garantem que ainda temos tempo de reverter esse futuro que se apresenta tão devastador. Mas para isso, é necessário começarmos a agir agora, e será preciso a participação e cobrança de todos.
“Quando a gente olha o tamanho do problema, nunca queremos ser responsabilizados por ele. Queremos sempre encontrar um culpado, como as empresas e os governos. O que a gente esquece é que quem escolhe eles somos nós. No caso das empresas, as maiores poluidoras estão nesse lugar, porque são as mais consumidas, mas por que elas não estão sendo cobradas por investimentos em reciclagem, por exemplo”, explica Débora Fraga, bióloga e engenheira ambiental.
A especialista destaca que a participação da sociedade civil nos órgão públicos pode gerar uma grande diferença no enfrentamento às consequências do desequilíbrio ambiental, como no caso das chuvas devastadoras que vem atingindo a cidade nos últimos anos e são associadas às mudanças climáticas. “Tem lugar em São Paulo que nem saneamento básico tem e aí a nossa discussão muda. A gente precisa exigir do governo mesmo, porque é um direito previsto na Constituição. Em locais que tem, precisamos requerer a limpeza das ruas. Participar na subprefeitura é fundamental. Principalmente porque nós temos áreas que são arborizadas na cidade, mas que as árvores estão doentes e se tornam vilãs para a população. Quem cuida disso são as subprefeituras e nós temos que estar lá para cobrar isso”, afirma Fraga.
Para além da cobrança, algo que pode levar tempo e esforço político, também há as ações que cada um pode fazer no dia a dia para evitar a emissão de gases poluentes, a proliferação de lixo e a contaminação dos solos e águas, uma conversa que vai além dos métodos já conhecidos como a economia de água e separação correta do lixo.
“Quando vamos comprar um produto, precisamos escolher empresas que estejam realmente preocupadas com o meio ambiente e não façam greenwashing, que é quando você diz que é uma empresa amiga do planeta e não é. Outra questão é a dos “Três Rs”, que são o Reduzir, Repensar e Reutilizar. E fazer aquela famosa pergunta antes de comprar algo “será que eu preciso comprar isso?”. Consumir de produtores locais e buscar marcas que investem no meio ambiente. Uma ideia é na sua próxima compra no mercado, pesquisar pelo menos um produto que venha de uma empresa que tenha preocupações reais com o clima e optar por ele, testar pelo menos”, fala a bióloga.
Nesta conversa sobre mudanças climáticas e o enfrentamento a elas, o que fica claro é que cada um precisa se ver como parte do problema e também da solução. “Uma coisa que perdemos muito, não só no Brasil, é a conexão com o meio-ambiente. Quando a Europa, que já foi muito desmatada e teve crescimento economicamente em cima da destruição, é difícil pensar na natureza quando você não a vê mais. Nós temos uma realidade diferente. A gente tem a Amazônia, o Cerrado, temos populações tradicionais que vivem e dependem do que a natureza oferece. Quando a gente começa a se colocar em prédios, casas, nas cidades, colocando a natureza como um outro estado. É muito fácil estar aqui em São Paulo, falando da floresta amazônica, uma vez que o meu principal bioma é o mais desmatado do Brasil. Eu já não o vejo mais. Então, eu coloco essa responsabilidade em quem mora no Norte, não em quem está no Sudeste. Mas a verdade é que está tudo interligado. A Terra existe desde muito antes do ser humano existir e ela vai continuar existindo depois de nós. Quando estamos preocupados com o aquecimento global, estamos preocupados com a nossa existência”, finaliza.
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