Por meio da técnica integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), poluente é retido no solo pela renovação e recuperação de pastagens
Um dos desafios da agricultura é conciliar a produção de alimentos com a conservação do solo e a diminuição da emissão de dióxido de carbono (CO2). No Brasil, cerca de 60% da área agrícola é ocupada por pastagens, aproximadamente 164 milhões de hectares. Muitas dessas áreas estão degradadas, o que compromete a produtividade e acelera a perda de carbono. Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, estudo da agrônoma Rosemery Alesandra Firmino dos Santos, desenvolvido em sua tese de doutorado em Solos e Nutrição de Plantas, mostra que umas das soluções para reduzir as emissões é renovar ou recuperar as pastagens com o cultivo de grãos como milho e soja, ou ainda incluir árvores no sistema, retendo o carbono no solo, técnica conhecida como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
A pesquisadora explica que o solo exerce um papel essencial nas estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Além de servir como base para a produção de alimentos, fibras, energia, abrigar a biodiversidade, filtrar a nossa água e outros serviços, ele funciona também com um reservatório de carbono. “A entrada do carbono no solo ocorre a partir das plantas, que capturam o CO2 da atmosfera a partir da fotossíntese e incorporam este carbono nas suas estruturas, como caules, raízes, folhas”, explica.
Esses compostos presentes nas plantas são depositados na forma de resíduos no solo e são decompostos pelos microrganismos. Nesse processo, uma parte vira novamente CO2 e retorna à atmosfera, mas outra permanece no solo, fazendo parte da matéria orgânica do solo (MOS). Os compostos orgânicos podem se ligar às partículas mais finas do solo como silte e argila, formando estruturas chamadas de agregados, que ajudam a proteger o carbono por mais tempo. “Em ambientes naturais, como florestas, esses processos ocorrem de maneira equilibrada, com uma entrada contínua de resíduos das plantas e ausência de perturbação do solo”, relata a agrônoma. “No entanto, quando o solo é usado para a agricultura, esse equilíbrio é alterado devido à perturbação e à diminuição na entrada de resíduos das plantas. Como consequência, mais CO2 é liberado para atmosfera.”
Por Alicia Nascimento Aguiar para o Jornal da USP
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