O Professor de História do Colégio Objetivo, Daily Matos, desmistifica o assunto, que até hoje é um tabu político
Na quarta-feira (7) será celebrado o histórico marco do Bicentenário da Independência do Brasil, proclamado por Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga. Para um olhar reflexivo sobre a data, o Grupo Sul News conversou com o Professor de História do Colégio Objetivo, Daily Matos, que desmistificou alguns fatos históricos.
O grito de independência foi imortalizado na simbólica obra de Pedro Américo, exposta no Museu do Ipiranga. “Quando falamos de independência, pensamos em duas situações: um Brasil-Colônia até a vinda da Família Real e o Brasil pós esse momento”, explica o professor.
Pensar na liberdade social que temos atualmente e como estamos evoluídos cultural, social e economicamente deve-se muito ao momento de nos tornarmos independente como nação. “O Brasil não tinha estrutura nenhuma de nação. De 1808 a 1821, foram 13 anos de uma mudança substancial no país. Passamos a ter essa estrutura com instalações de bancos, ministérios e fomos evoluindo extraordinariamente”, revela.
E muito se deve à vinda da Família Real, ao qual se mudaram para o Rio de Janeiro, fugindo dos ataques e invasões napoleônica, que estava devastando toda a Europa.
A independência é um marco para a construção da identidade brasileira. Mas o que começou com a monarquia, continuou com a República. Devido a interesses políticos, a história sofreu algumas alterações. “Em 1815, o Brasil passa a ser um Reino Unido a Portugal e Algarves, deixando de ser colônia. É o período chamado de ‘Inversão Política’, visto que a sede administrativa era no Brasil.”
Portugal passa então a perder suas fontes de riqueza, já que não podia mais explorar o Brasil e não era uma nação autossuficiente. “Enquanto Portugal vivia um caos com a fuga da Família Real, com revoltas; o Brasil vivia uma ascensão, negociando diretamente com a Inglaterra e fomentando o crescimento econômico.”
Daily Matos relembra que a Proclamação da República em 1889, feito por barões, donos de terras e fazendeiros da época, mudou a forma de contar a história política no nosso país! “O descaso com a Família Real foi impressionante. Foi uma traição à Dom Pedro II, que dizem que saiu do Brasil arrasado e entrou em depressão”, conta e detalha: “Para se ter uma ideia, a Escola Imperial de Belas-Artes, financiada pela monarquia, passa a se chamar Academia Belas-Artes, com artistas sendo forçados a criarem artes republicanas e abandonar qualquer menção monarquista.”
Sob o bordão “Ordem e Progresso”, a República Federativa do Brasil, como conhecemos hoje, foi um golpe de Estado, apagando todas as identidades nacionais deixados pela Família Real entre 1808 e 1888.
“É inegável o papel de Dom Pedro II para a construção da identidade nacional. Se vivesse nos dias de hoje, seria um típico nerd. O Brasil, neste período, era muito mal visto pelo mundo. Um país selvagem, de canibais, escravista, e é exatamente Dom Pedro II que começa a quebrar esses tabus no imaginário dos estrangeiros sobre o Brasil”, relembra o professor.
A identidade brasileira só começou a surgir mesmo a partir da década de 1920, onde artistas e escritores contemporâneos passam a recriar a figura do brasileiro. “No centenário [1922], existiu a discussão se falava bem ou não da monarquia. Então reconta-se a história exaltando o governo republicando, mas evitando mencionar Dom Pedro II. Realmente, queriam esconder esse fato!”
Um dos fatores que mudaram a percepção sobre os brasileiros se deve a importância do papel do intelectual Rui Barbosa na Conferência Internacional de Paz Mundial, em Haia (Holanda), em 1904. “Rui Barbosa foi inovador e poucos sabem! Ele propôs um tribunal internacional quando ainda nem existia a ONU [Organizações das Nações Unidas].”
Mas a fama brasileira que é do jeito que está hoje, muito se deve aquele que todos conhecem apenas pelo apelido, a um tal de Pelé. “A projeção de Pelé é inquestionável. As novas gerações não entendem isso, mas para os mais antigos… Pelé simplesmente foi um Embaixador Mundial”, diz.
Pelé levou o Santos para jogar pelo mundo, para que o mundo pudesse ver com os próprios olhos o que era se impor no futebol, impondo junto a cultura brasileira no cenário internacional. Não é à toa que somos o País do Futebol, será que se não existisse Pelé, essa nossa fama seria a mesma?
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