Em 17 de junho de 1962, há 60 anos, Mané Garrincha estrava para a história do futebol brasileiro e do mundo ao ser o grande protagonista do título do bicampeonado da Copa do Mundo com a seleção canarinho!
Se estivéssemos em condições normais, estaríamos provavelmente nas semanas que aconteceriam as semi-finais e final da Copa do Mundo de 2022, que tradicionalmente ocorre entre os meses de junho e julho.
Mas neste ano, em função do grande calor do Catar, país árabe de grandes temperaturas, a Copa do Mundo ocorrera em novembro e dezmebro, como forma de amenizar o alto calor da região nos outros meses.
Para entrar no clima da Copa do Mundo, que tal reviver um passado que parece esquecido no imaginário do brasileiro, relembrando de um tal de Garrincha!?
Em 9 de novembro de 1962, a Gazeta de Santo Amaro publicou uma rara reportagem com o ídolo das pernas tortas do Glorioso Alvinegro (Botafogo), que você pode conferir, na íntegra, 60 anos depois dessa grande conquista abaixo
GARRINCHA OU GARRICHA?
“Dizem que sou “o garôto de carreira mais rápida do futebol brasileiro”. Carreira rápida para ponteiro, não nego que possua. Quanto a garôto (pouco me importa que me chamem assim), pergunto: “Pode um garôto ser pai de família?” Sou casado, tenho uma filha de nome Teresinha, estou com 20 anos, jogo bola desde os 12. E então? Discutem o meu apelido falam das minhas pernas tortas de driblador. Ora, quanto mais discutirem, melhor será. Olhem no dicionário: o meu apelido tanto pode ser Garricha, pronúncia do Sul, como Garrincha, pronúncia do Norte.
Invenção de minha irmã, que me aplicou esse nome de passarinho, quando eu era pequeno e franzino. Só não gosto que me confundam com Gualicho, por maiores prêmios que tenha ganho. Chamo-me Manuel Franscisco dos Santos. Com 3 irmãos (2 dêles goleiros) e 4 irmãs, nasci em Pau Grande, perto da Raiz da Serra, 3º Distrito de Magé, Estado do Rio. Calço 39. Peso, 67 – Altura, 1,64. Aprendi a chutar com o meu irmão mais velho: êle, no gôl, eu, horas e horas a disparar o tiro, aperfeiçoando-me.
Nas “peladas” jogava de meia-direita, mas no Serrano de Petrópolis, um treinador acertou que eu era ponta. Sim, fui torcida do Flamengo, fiz uma visita sem êxito no Vasco, treinei no São Cristóvão, por fim, ingressei no Botafogo, levado por Arati, que me viu jogar “lá em casa”. Gentil Cardoso preparou-me com cuidado para a estreia, que foi feliz.
Receita para bater pênalti? Rezo antes e depois, chuto como sei chutar, isto é com jeito, força e fé em Deus. Fora dos gramados, a minha diversão favorita é caçar, com perdigueiros e espingarda. Mas deixa estar que é também boa caçada fuzilar um goleiro com um tiro de boa pontaria.
Copa do Mundo? Sou moço humilde, novo no profissionalismo, nem sei se vou figurar entre os 40 convocados. “Topo” qualquer “parada”, estou à disposição. Se fôr para o selecionado, espero dar sorte ao Brasil, pois me lembro muito bem de que foi um garôto, um “pibe” como eu que ganhou a Copa do Mundo para o Uruguai em 1950”.
Tudo isso disse Garrincha em 1953. De lá pra cá, muita coisa aconteceu: a família que era composta de três aumentou para nove, o garoto de então, calouro do profissionalismo tonou-se o maior ponteiro-direito do mundo, sagrando-se bi-campeão mundial e, juntamente com Pelé, é a figura de maior destaque do futebol mundial. O Chile foi sua consagração e também o local de sua primeira punição: foi expulso de campo.
Apesar dos grandes títulos futebolísticos continua, entretanto, o “Mané” Garrincha a ser o mesmo moço humilde que saiu da localidade de Pau Grande para as manchetes dos jornais e para a consagração futebolística.
NÃO MUDOU
Diz Garrincha que estão querendo faze-lo passar por mascarado, mas que não mudou nada.
– Automovel – diz- pelo menos para mim, não é objeto de luxo. Por ter carro, já não sou escravo dos horários de trem e me canso muito menos nas viagens diárias de Pau Grande ao Botafogo. Só uso o carro para vir ao clube, pois raramente tenho tempo para passear com a família. Não sou de máscara e os que me conhecem sabem bem disso.
Explicando porque comprou um Karman-Ghia, carro esporte de luxo, diz:
– O carro não me custou grande coisa, porque dei em troca o que tinha e ainda o Dauphine, que a CBD me deu. A verdade é que ainda recebi uns trocados de volta. Achei bonito e jeitoso. E o principal: tinha dinheiro para compra-lo.
VAI DAR SHOW
Para Garrincha, o que está levando muita gente a pensar que ele está jogando mal é a falta de “shows” de dribles que dava antes.
– Meu futebol era muito de arquibancada, mas acho que foi na Copa do Mundo, depois que Pelé saiu, que dei de jogar pensando no time, mais a sério. O estilo, pelo que vejo, não anda agradando. A torcida sente falta dos dribles. Quer o “show”. Pois doravante vou tentar algumas jogadas na base do drible. Se puder, é claro, me esforçarei para agradar mais.
Contudo, os jogos são dos mais difíceis e nem eu nem nenhum dos meus companheiros podemos facilitar nada. De minha parte, prometo aos dirigentes e aos torcedores do Botafogo tudo fazer para jogar bem. Não aceito a ideia de que pense que não estou interessado no campeonato ou que não ando me empregando a fundo. Tenho meu nome a zelar e sempre fui correto com o clube, e todos sabem disso. E o que espero provar mais uma vez nos próximos jogos.
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