O bullying está presente na vida de praticamente todas as crianças e jovens do Brasil. Vítimas, agressores ou pessoas que presenciaram casos de perseguição, todos já vivenciaram pelo menos um episódio de bullying.
É nas instituições de ensino que o bullying mais se manifesta. Mas, mesmo tão grave, a maior parte dos profissionais da educação ainda não recebe formação e informação para lidar com os casos, fato que afronta diretamente a Lei do Bullying (13.185/15).
Parece mais pertinente (e cômodo) negligenciar o atendimento e deixar à vítima à mercê de seus algozes, do que dar a atenção necessária e solucionar o problema.
Como exemplo, cito dois casos, todos ocorridos esse ano.
Na Bahia, em Teixeira de Freitas, um menino sofria bullying por racismo. O pai teve que apelar à polícia, após procurar a diretora e ouvir que o melhor era transferir o filho de escola.
Em Ribeirão Preto (SP), um pai relatou para a diretora da escola que o filho aparecia com escoriações e hematomas há mais de um ano. Ao ouvir da diretora que ele deveria resolver o problema diretamente com a família do agressor. Ele se enfureceu, virou uma mesa e acabou detido pela polícia.
Esses casos mostram o completo despreparo dos profissionais de educação para mediar casos de bullying.
O Brasil tem legislações preventivas, como a Lei do Bullying, que estabelece medidas a serem adotadas nas escolas, como o desenvolvimento da Cultura da Paz, e punitivas, como a Lei 14.811/24, que inclui o bullying no Código Penal e prevê até quatro anos de prisão.
Escolas e gestores, atenção: a legislação sobre bullying exige mais do que simples palestras anuais ou reuniões esporádicas. É mandatório que as instituições desenvolvam e mantenham um plano de combate ao bullying, documentado e ativamente implementado.
A Justiça brasileira já está responsabilizando civil e criminalmente as instituições de ensino que falham em proteger seus alunos.
A curto prazo, o bullying deteriora o ambiente educacional, transformando espaços de aprendizado em zonas de risco. É preciso investir agora na capacitação de educadores para garantir um ambiente seguro e inclusivo para todos.
A falta de ação não é apenas negligente; é financeiramente e moralmente custosa para a instituição e deixa cicatrizes psicológicas nas vítimas.
Ana Paula Siqueira, Presidente da Associação SOS Bullying, mestre e doutoranda pela PUC/SP, professora universitária e pesquisadora em cyberbullying e violência digital.
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