Não faz muito tempo que tivemos a disputa eleitoral mais acirrada, e até violenta, dos últimos tempos, na disputa entre Bolsonaro e Lula, sendo este último o vitorioso e atual presidente da República. Muitos de meus alunos ou jornalistas questionam: não há novos líderes políticos capazes de se apresentar com projetos para os eleitores brasileiros?
Bolsonaro conseguiu se projetar contra a política e o sistema, embora político e está – junto com a família – dentro do sistema; Lula foi candidato à presidência em 1989 (quando eu tinha 11 anos) e foi eleito pela terceira vez em 2022 (quando contava com 44 anos). A polarização entre bolsonarismo e lulopetismo ganhou elementos novos por conta da presença de uma extrema-direita e ataques ao sistema político e eleitoral, e isso não se verificava na polarização anterior, entre PT e PSDB. Mas, aqui, cabe a pergunta: qual o motivo da ausência de novos e bons líderes políticos?
Líderes são mais difíceis de se forjar do que os chefes. Chefes precisam de cargo para mandar; líderes não se projetam por meio de um cargo e sim por sua capacidade de dialogar, coordenar, convencer e seguir junto aos liderados. Na política, especialmente a brasileira, o gosto de mandar e chefiar sempre foi maior do que a capacidade de liderar.
Nos dias que correm, os líderes são escassos, embora os chefes abundem. Não raro, o próprio ambiente institucional da política, nos partidos e nas casas legislativas, cria barreiras quase instransponíveis para a diversidade social, mormente, quando se pensa nos jovens. Além disso, atacar política e políticos tornou-se lugar comum e, com isso, cria-se a narrativa de que política e políticos são ruins, corruptos e que lá prevalece, sempre, o jogo sujo da busca e manutenção do poder. A iniciativa privada costuma captar e remunerar muito bem esses líderes e, na política, muitas vezes, a força da tradição e do carisma populista e salvacionista costumam prevalecer.
“Os políticos profissionais são intermediários, representantes, lideranças. Vivem e agem no interior de um sistema. A boa ou a má qualidade deles depende da qualidade dos que são por eles representados, dos valores que prevalecem e da armação institucional em que operam”. Marco Aurélio Nogueira em seu livro “Em defesa da política”, de 2001.
Rodrigo Augusto Prando
Professor e pesquisador do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia
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