ARTIGO | Como educamos nossas crianças quando elas são rejeitas por suas aldeias?

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Nenhuma criança aprende e se desenvolve somente a partir de valores e conhecimentos oriundos exclusivamente da sua família nuclear. Toda a construção de seu ser é a somatória de todas as experiências de aprendizagem que essa criança terá com o contato com a comunidade (ou as comunidades) que a cerca.

Educar implica em preparar as crianças e adolescentes a partir da vida e para a vida e a escola adquire o papel e a dimensão de formar pessoas resilientes, socialmente empreendedoras e criativas, capazes de transformar as situações adversas em oportunidades para o bem-estar local e universal.

Porém, como fica o aprendizado de uma criança onde sua família nuclear e a escola, seu primeiro espaço de formação de cidadania, não entregam sentimentos de receptividade, percepção de igualdade, pertencimento simplesmente por serem diferentes?

No extremo, quem educa os meninos que são percebidos como “femininos” ou as meninas que são percebidas como “masculinas” nas escolas? Quem os defende? Quem cuida dos corpos considerados dissidentes, queers, anômalos que estão em nossas salas de aula?”

Paul Preciado, em seu livro “Um Apartamento em Urano: crônicas da travessia”, traz um artigo intitulado: “Quem defende a criança queer? Quem defende a criança diferente?” Nele, ele questiona qual modelo de criança é defendido pelas instituições. A criança como corpo docilizado em formação. Corpo obediente às normas e disciplinarizações, obviamente. Corpos de criança que fogem ao considerado normal, são problemáticos, punidos, tratados como anômalos e punidos com tratamentos medicamentosos, idas à diretoria, conversas com a coordenadora, até a temida reunião com os pais, para comunicar que a criança não se enquadra, não adere, não responde ao sistema padrão de reproduções humanas.

Crianças e jovens LGBTQIA+ encontram na escola um ambiente hostil e por isso, a probabilidade de não se sentirem seguros onde estudam é infinitamente maior. Passam a evitar atividades escolares, perdem aulas e chegam a deixar de frequentar regularmente o curso.

O senso de pertencer é um dos aspectos fundamentais dessa experiência social humana. Fecho esse texto lembrando de Milton Nascimento: em Coração de estudante: “Há que se cuidar do broto, para que a vida nos dê flor e fruto”.

Matheus Toscano, vice-presidente de operações da Rhyzos, holding do setor de educação que se dedica à transformação positiva do ensino

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