ARTIGO | Mudanças climáticas e segurança hídrica

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Detentor de uma das maiores bacias hídricas do planeta, com 10% da água doce de todo o mundo, o Brasil não está distante de enfrentar a falta de água. Até mesmo a região Amazônica, banhada pelos maiores rios do mundo, não conseguiu passar ilesa por uma forte crise, que reduziu drasticamente a vazão de rios, trazendo sérios riscos para a população da região.

Um estudo realizado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra o avanço acentuado do clima semiárido no país. Pela primeira vez, os cientistas identificaram uma região árida no centro-norte da Bahia, com uma escassez forte de chuvas. De acordo com as pesquisas, os processos de desertificação podem se acelerar nas próximas décadas e se expandir para outras regiões do país, com impactos para a produção de energia e agropecuária brasileira.

No Brasil, somente 667 municípios, que agregam 4% da população urbana brasileira, estão classificados com segurança hídrica máxima de acordo com o Atlas da Água, elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O documento mostra ainda que 2.143 localidades apresentam classificação de alta segurança para os seus 50,2 milhões de habitantes. O país tem ainda 40% da população urbana – 77,3 milhões de brasileiros – morando em locais com segurança hídrica média. Infelizmente, 50,8 milhões de pessoas ainda habitam regiões com segurança hídrica baixa ou mínima.

Por outro lado, vivemos uma das maiores contradições, que é o desperdício. Ainda hoje, aproximadamente 40% da água tratada não chega às torneiras das moradias brasileiras, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Diariamente, desperdiçamos o equivalente a 7,8 mil piscinas olímpicas. A meta é reduzir esse indicador para próximo de 25%, volume suficiente para abastecer cerca de 40,4 milhões de pessoas no período de um ano.

A água é um bem essencial e regiões metropolitanas já têm sofrido com a necessidade de racionamento diante da escassez provocadas pelas mudanças climáticas. As soluções já estão ao alcance dos municípios. É preciso compromisso para avançar na gestão hídrica como forma de evitar o risco de desabastecimento no futuro.

(*) Elzio Mistrelo é engenheiro, Diretor Administrativo e Financeiro da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e coordenador do Boletim do Saneamento


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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