ARTIGO | Os impactos da atualidade na saúde mental

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Segundo a OMS, em estudo publicado em 2019, 700 mil suicídios acontecem, anualmente, em todo o mundo – se considerarmos a subnotificação, podemos facilmente estimar mais de 1 milhão de casos.

Recentemente, o burnout foi incluído pela OMS na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11). Traduzida como síndrome ocupacional crônica, o burnout é uma condição mental relacionada ao trabalho. Em uma era acelerada como esta pela qual passamos, com uma redução consistente de direitos trabalhistas em todo o mundo em razão da crise econômica, as pessoas têm sofrido demais para atender aos prazos e às exigências de suas funções, que não param de crescer, além de terem que lidar com o estresse alheio.

Esses excessos impactam diretamente na qualidade de vida, nos cuidados com a saúde física e com a saúde mental – que até pouco tempo atrás nem faziam parte da lista de prioridades de nenhuma organização. Mas o mundo evolui, e hoje as empresas e o mercado já perceberam que pessoas sem segurança psicológica não produzem da mesma forma e isso traz impacto econômico para qualquer negócio.

O acúmulo de trabalho é uma das situações negativas neste cenário. Mas há também outros estressores mentais, que podem inclusive levar a pensamentos suicidas ou ao próprio suicídio, como o assédio ou bullying, grandes mudanças (demissão, separação ou a perda de alguém querido, por exemplo), pequenas e repetitivas situações do cotidiano (o trânsito caótico das grandes cidades é uma ótima ilustração disso) e situações de tensão crônica, causadas por relacionamentos abusivos na vida pessoal ou no ambiente profissional. A sensação de desamparo e impotência frente aos estressores da vida, em todos os sentidos, é uma condição básica para a desesperança, que pode elevar o risco de suicídio.

Na verdade, a realidade humana, que evoluiu tanto até aqui, ainda precisa dar muitos passos em direção à valorização da saúde mental das pessoas. Não podemos deixar de lado as políticas públicas que auxiliam a população a ter acesso a tratamentos adequados quando se trata deste tema. Esse, sem dúvida, é o nosso papel enquanto comunidade médica e sociedade. Enquanto essa preocupação não for lugar-comum, ainda estaremos longe de não precisarmos de uma campanha como a Setembro Amarelo.

Kalil Duailibi é psiquiatra e professor universitário de medicina


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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