Casal negro é vítima de racismo em supermercado no Campo Belo

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Na hora de pagar as compras, funcionários do supermercado obrigaram o casal a esvaziar a bolsa para serem revistados. Na bolsa, havia uma Bíblia. Policial minimizou a situação dizendo que “não é nada fora do normal”


Um casal negro que estava fazendo compras em um supermercado no Campo Belo passou por um constrangimento de cunho racista quando foram obrigados a esvaziar a bolsa para serem revistados.

A situação aconteceu no momento de pagar as compras. “A moça me deu o valor, peguei meu cartão pra pagar e ela disse: ‘preciso ver tua bolsa’. Eu falei: ‘sério?'”, explica Edgar Oliveira de Carvalho.

“Eu perguntei pra ela: ‘você tem alguma dúvida se coloquei algo dentro?’. Fiquei sem ação. Me faltou o chão”, disse Leticia Oliveira de Carvalho, esposa de Edgar.

O casal afirmou que só mostrariam o conteúdo da bolsa na presença da Polícia. Quando os PMs chegaram, Leticia fez um vídeo que mostra Edgar virando a bolsa em cima do carrinho do supermercado. Dentro da bolsa havia uma carteira, uma bolsinha com remédio e uma Bíblia.

O vídeo mostra também a atitude do policial, que tentou minimizar a situação. “Não é nada fora do normal. Você está dentro de um estabelecimento comercial”, diz o PM.

“Eu perguntei para o gerente, para a menina do caixa: ‘se é procedimento, cadê? Onde tá escrito o procedimento? E com quantas pessoas vocês fizeram isso hoje?’”, disse Letícia.

O casal registrou dois boletins de ocorrência: um no 27° Distrito Policial Campo Belo e outro na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

O Supermercado Extra informou que condena condutas discriminatórias e que, ao saber do episódio, acionou a loja e deu início a um processo interno de investigação. De acordo com o Extra, a rede mantém um calendário de treinamentos e formações para todos os funcionários que inclui o combate ao racismo.

RACISMO NA ZONA SUL

Na mesma semana, duas mulheres foram agredidas em um comércio na Vila Mariana por um homem que ofendeu uma delas com insultos racistas.

O homem a chamou de macaca e deu socos e tapas nas duas mulheres. A mulher negra filmou a briga com o celular e no vídeo, o homem dá risada da situação.

O agressor é funcionário do Centro de Referência e Treinamento (CRT) em DST/Aids, do Governo do Estado de São Paulo. De acordo com o CRT, foi instaurado um processo administrativo para apurar os fatos e o homem foi afastado pelo período das investigações. “O Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP repudia qualquer ato de discriminação, preconceito, agressão e qualquer tipo de desrespeito a cidadãos, independentemente de status social, gênero, etnia”, afirmou o órgão.

O caso foi registrado como Lesão Corporal, Injúria e Ameaça no 16° Distrito Policial Vila Clementino.

RACISMO x INJÚRIA RACIAL

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, há diferenças jurídicas entre o racismo e a injúria racial:

● o Racismo está previsto na Lei n. 7.716/1989 como crime e “atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível”. Um exemplo de racismo é a recusa ou impedimento de que uma pessoa negra acesse determinado local, como elevadores, espaços públicos ou privados.

● a Injúria Racial está dentro do Código Penal Brasileiro (artigo 140, parágrafo 3º) e consiste em “ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem”. A pena é reclusão de um a três anos e multa e, se houver violência, a pessoa também recebe a pena correspondente a este delito. Um exemplo de injúria racial é uma pessoa negra ser chamada de macaco.


SUGESTÕES DE PAUTA: reportagem@gruposulnews.com.br

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